Tuesday, February 28, 2006

Dia -126

O Carnaval
Que graça tem o carnaval? Maminhas a abanar. Rabos a abanar. Braços a abanar.
Pernas a abanar.
Malta em cima de carros. A abanar.
Nunca gostei nada do carnaval. É que tenho pouco jeito.
Para me abanar.

Monday, February 27, 2006

Dia -125

O Síndrome
Parece que sofro de síndrome vertiginoso. Bom... sempre se poupa no alcool. Quer dizer. Vejo tudo a andar à roda, a espaços, e nem uma cerveja preciso de beber. Hum...

Sunday, February 26, 2006

Dia -124

As Concessões de uma Tia
'Vá. Combinámos que ias para a cama às dez e meia'.
'Está bem. Mas ainda tens de me ler uma história'.
'Sim, eu leio. Que andas a ler?'
'Este' - mostrou-me o Harry Potter e a Pedra Filosofal.
'Ó pá, mas esse é enorme'.
'Lês-me só oito páginas'.
'Oito??? Quantas te lê o teu pai ou a tua mãe por dia?'
'Ahh... aí umas quatro'.
'Ora, então leio-te quatro... se eles te lêem quatro, porque é que hoje te vou ler oito?'
'Porque tu és minha tia'.
Arrematado. Li-lhe dez. E nem se falou mais nisso.

Saturday, February 25, 2006

Dia -123

O Peso
«Deviam chover lágrimas quando o coração pesa muito»
António Lobo Antunes, título de uma crónica do Terceiro Livro de Crónicas, D. Quixote

Friday, February 24, 2006

Dia -122

A Terra Natal
«Onde a mulher teve um amor feliz é a sua terra natal»
António Lobo Antunes, título de uma das crónicas do Terceiro Livro de Crónicas, D. Quixote

Thursday, February 23, 2006

Dia -121

O Meu Pai
Tenho, confesso, um complexo de electra, bastante acentuado, desde que me conheço.
Tenho esta paixão avassaladora pelo meu pai.
Não há homem mais bonito. Nem mais inteligente. Nem mais habilidoso.
Não há no mundo, outro homem que goste tanto de mim.
Não há no mundo outro homem de quem eu goste tanto como dele.
O meu pai hoje faz 68 anos.
Parabéns Pai!

Wednesday, February 22, 2006

Dia -120

O Fantasma
De repente reapareceu-me. Como um fantasma. Ou como sei lá o quê.
Disse-me, como se me tivesse visto há pouco tempo:
'sonhei contigo ontem. Quis ver o que faria o destino.'
Fiquei meia azamboada, confesso, com este fantasma sonhador e crente no destino.
Perguntou-me ainda: 'posso convidar-te para jantar amanhã?'.
No meio de alguma confusão. Que o fantasma não deixou de se caótico só por ter começado a sonhar comigo e a acreditar no destino, lembro-me de lhe dizer:'ora, bardamerda'.
E pronto. Esfumou-se.

Tuesday, February 21, 2006

Dia -119

O Sentimento de Culpa
Não sei bem o que fiz. Mas alguma coisa foi. Se mereço isto.
A culpa. Sentir culpa. Mesmo que a culpa. Não seja minha.
Mesmo que não saiba de quem é a culpa.
'Je me sens coupable, parce que j'ai l'habitude.
C'est la seule chose que je peut faire, avec une certaine
certitude'.
Lhasa The Living Road

Monday, February 20, 2006

Dia -118

A Trasladação
Honestamente. Que merda é esta? Num estado laico! Que merda vem a ser esta?
Honras de transmissão interminável pelas várias televisões? Cortejos de milhares de pessoas?
Que merda é esta?
Quem é esta mulher, ou este monte de ossos que agora mudam de lugar?
Que fez ela pelo país? A não ser contribuir para a tacanhez?
Para a perpetuação de uma crença numa história de uma senhora cheia de luz.
Escarrapachada numa azinheira, ou oliveira... ou lá no que foi.
Só estou certa que não foi um castanheiro.
Os castanheiros são árvores com dignidade. Não se prestam a merdas destas.
Que merda é esta? Honestamente, continuamos na mesma.
Família, Futebol e Fátima.
Falta um F. Falta um F.
Foda-se!

Sunday, February 19, 2006

Dia -117

A Chuva
É torrencial esta chuva. Sinto-me minúscula. Sou minúscula.
Enquanto alguém, algures, acima. Atira violentos baldes de água.
É torrencial. A chuva. E eu tão pequena, tão pequena.
Que não tenho medo.
Deixo que a chuva torrencial me lave o corpo.
Os olhos.
E os sentidos.

Friday, February 17, 2006

Dia -116

Munique
Porque é que acho que Munique é um filme extraordinário?
Porque, ainda que no início, estivesse preocupada com a tendência pró-israelita que o filme destilava... depressa foi evidente a ambivalência.
Volto, pois, a dizer. Todos. Podemos ser Terroristas. Pelo menos. Uma vez.

Thursday, February 16, 2006

Dia -115

A Ambivalência
Porque todos acreditamos profundamente em alguma coisa.
Porque temos todos pelo menos uma convicção inabalável.
Uma ideia. Uma ideologia. Uma religião. Um laço. Um lugar.
Uma pátria.
Todos podemos ser terroristas. Ao menos uma vez.

Wednesday, February 15, 2006

Dia -114

Detesto o Amor*
A verdade é que não detesto o amor.
Apenas as celebrações a dias certos. Aparatosas.
Cheias de coisas vermelhas. Parafernália inútil. Ao próprio amor.
Na verdade, tenho saudades dos homens que amei profundamente.
Na verdade, detesto a ideia de já não os amar.
Ou de eles já não me amarem a mim.
*J'Ai Horreur de L'Amour, apresentado em Portugal com o título 'Detesto o Amor' é um belíssimo filme de Laurence Ferreira-Barbosa.

Dia -113

As Manias
Tenho muitas. Manias. Muito mais que cinco. (In)Felizmente.
Assim, Vanessa:
1. A mania de acordar tarde. Pontualmente tarde.
2. A mania de me deitar de madrugada.
3. A mania de cheirar qualquer livro em que pegue. Velho ou novo.
4. A mania de acreditar. Nas pessoas. Nas situações. Mesmo que tudo se repita. Indefinidamente. Acredito sempre que não será igual. E, de facto, igual não é. Apenas muito parecido.
5. A mania das limpezas e da organização. Só funciono se tudo estiver muito limpo e muito organizado. Quer seja a minha casa, quer seja o local de trabalho. Acho que o caos 'cá dentro' é tão grande que é o único modo que encontrei para viver.
Passo esta corrente ao JOS do Turno da Noite. Ao JPN do Respirar o Mesmo Ar.
Ao Carlos Azevedo do The Cat Scats. À Sandra Costa do Tubo de Ensaio. Ao Henrique do Insónia.
Não sei é se eles vão responder.
Regulamento: Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue.

Monday, February 13, 2006

Dia -112

O Filósofo
100 anos sobre o nascimento de alguém, são muitos dias.
Aproximadamente 36500. A menos. Para a morte.
Mas há quem ainda que morrendo, não morra.
Talvez nunca ninguém morra, enquanto houver razões para recordarmos.
E aprendermos ainda. A pensar. E a não nos conformarmos.

Friday, February 10, 2006

Dia -109

A Fórmula
João* se a fórmula para se ter alguma felicidade é sermos bons na cama e bons cozinheiros, não percebo por que raio não serei eu feliz. É que eles não costumam queixar-se. Da comida.
Ou do modo como como. Ou do modo como me deixo comer.
Por que raio, então?
Porque aquilo de que preciso (ou precisamos) não se esgota nessas elementares necessidades?
Porque tenho mais necessidades do que as elementares?
Porque até tenho mais elementares necessidades?
Ou porque tenho necessidades a mais para o bem que como e cozinho?
* a propósito do comentário deixado no post do dia -104 - O Troglodita)

Thursday, February 09, 2006

Dia -108

Estado em que se encontra este blog. E eu. Consequentemente.
*Título de uma canção de Paolo Conte (in 'Una Faccia in Prestito'). Não faço ideia do que significa, mas sempre me soou a 'falem para aí que eu não me ralo nada', que é como quem diz: 'vão dar banho ao cão que eu entretanto darei palha às minhas renas'. Cliquem no título e vejam se não vos soa ao mesmo.

Wednesday, February 08, 2006

Dia -107

O Paradoxo
É possível estar-se numa sobreposição de dois estados e ter disso consciência?
Por exemplo eu, qual gato na experiência teórica de Erwin Schrödinger...
eu estou simultaneamente morta e viva.
Que sentido fará uma pessoa morta-viva?

Tuesday, February 07, 2006

Dia -106

Golpes de Beleza, por Correio Normal
«Esta noite, não sei se viram, o céu esteve claro
como se fosse uma hora impossível do dia»
in Lúcia
(posts editados em A Natureza do Mal, blog de André Bonirre e Luís Januário, em 2005)

Monday, February 06, 2006

Dia -105

A Resistência
Na minha idade é mais fácil resistir. Que ceder.
Se quiser, encontro sempre excelentes razões.
Para resistir. A praticamente tudo.

Dia -104

O Troglodita
«Sabes? Para mim há duas coisas muito importantes numa mulher».
«Ah sim? O quê?».
«Ora. Que há-de ser? Que seja boa na cama e que cozinhe bem!».
Fiquei na dúvida, ao ouvir isto, de passagem.
Ainda há gente que vive no tempo das cavernas?

Sunday, February 05, 2006

Dia -103

A Pele
Não gosto de ti. Quer dizer, não tenho nada contra ti. Mas...
não gosto do modo como pensas a vida. A política. As mulheres.
As coisas. As pessoas.
Não. Não gosto mesmo nada de ti. Mas...
seria possível, por favor, deixares ficar a tua pele?

Friday, February 03, 2006

Dia -102

A Febre

Ohhh you give me fever....

* Peggy Lee in ‘The Best of Miss Peggy Lee'

Thursday, February 02, 2006

Dia -101

O Vírus Suplicante

Blog.Worm

Wednesday, February 01, 2006

Dia -100

100 Dias a Menos

Viver sempre também cansa
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
Ora é azul, nitidamente azul,
Ora é cinzento, negro, quase-verde…
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica
As árvores dão flores,
Folhas, frutos e pássaros
Como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha
Não há flores que voem
A lua não tem olhos
E ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto

Ainda por cima os homens são os homens
Soluçam, bebem, riem e digerem
Sem imaginação

E há bairros miseráveis sempre os mesmos
Discursos de Mussolini,
Guerras, orgulhos em transe
Automóveis de corrida….

E obrigam-me a viver até à morte!

Pois não era mais humano
Morrer por um bocadinho,
De vez em quando,
E recomeçar depois,
Achando tudo mais novo?

Ah se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
Morrer em cima de um divã
Com a cabeça sobre uma almofada,
Confiante e sereno por saber
Que tu velavas, meu amor do Norte

Quando viessem perguntar por mim,
Havias de dizer com o teu sorriso
Onde arde um coração em melodia:
“Matou-se esta manhã
agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela”.

E virias depois suavemente
Velar por mim, subtil e cuidadosa
Pé ante pé, não fosses acordar
A Morte ainda menina no meu colo…

José Gomes Ferreira - Viver sempre também cansa