Wednesday, November 30, 2005

Dia -37

O Abel
Eu teria 14 anos, 14 para 15 anos. O Abel 17 para 18. Lembro-me de um dia, longe de casa. Da minha. Mas demasiado perto da dele. Eu tinha uma t-shirt vermelha, e umas calças de ganga, rotas. Eu tinha uma trança enorme, com um laço na ponta. Foi o meu avô Alberto que me colocou o laço na ponta, nesse, como nos outros dias em que eu estava longe de casa. O meu avô Alberto gostava da minha trança. Talvez fosse o que ele mais gostava em mim. Da minha longa trança. Dizia o meu avô que não havia trança mais bonita e que uma trança assim tinha que ter um enorme laço a rematá-la. E colocava-me o laço. Orgulhoso dos meus cabelos. Mais que eu. Que achava horrível ter 14 para 15 anos e uma trança daquelas a cair por mim abaixo. Mas o Abel também gostava da minha trança, se bem que admirasse mais as minhas mamas. 17 anos. Hormonas a saltar dentro dele todo. E eu era uma miúda gira. Ou seriam as minhas mamas que eram. Já não sei. Apesar da trança. Desculpa avô Alberto. Mas eu só comecei a gostar da minha trança no dia em que fiz 18 anos e rapei o cabelo. E. de repente, senti a falta da trança e da tua mão a pôr-me o laço. Mas tu isso já não soubeste. Já tinhas morrido e nunca mais ninguém se tinha interessado se a minha trança merecia um laço ou não. Mas o Abel, naquele dia, sentados ambos no degrau da casa dele atirou-me do fundo dos olhos verdes: tu queres namorar comigo? E eu fiquei a remexer na trança e a olhar para ele como se nunca o tivesse visto e pensei de mim para a minha trança: mas o que é que este quer? Quer dizer, não era a pergunta a novidade. Eu disse que era uma miúda gira. Apesar da trança. Ou por ela. Ou mesmo pelo laço. Era o Abel a fazer-me a pergunta, a novidade. Na verdade, se fosse hoje saberia porque é que não lhe respondi logo e o deixei pendurado como a trança, na resposta. Mas isso era hoje. Naquele dia, a só pensei o que é que este gajo quer? Na verdade, não sabia o que é que ele queria. Apesar das hormonas. Aos saltos. Bom, mas isso é o que querem todos e o que depois dele todos quiseram, de facto. E está bem. Eu também quero e também quis. Sem nenhuma excepção, ao que me lembro. Mas o que ele queria era ensinar-me coisas. E ensinou-me todas essas coisas das hormonas. Dos saltos. Dos livros. Da erva. Da distância sem sentido. Do querer até não poder mais e de poder tudo. Até querer. Ensinou-me a trair. Delimitou-me as estradas que haveria sempre de seguir. O Abel foi assim uma espécie de mapa sem cidades, só com caminhos. Quando o deixei um dia qualquer, muitas hormonas depois, muitos livros a seguir, muitos charros entretanto, muitas bebedeiras adiante, muitos sentidos desvendados, muitas traições bem cumpridas, no meio de um centro comercial lisboeta apinhado de gente... quando o deixei depois de lhe ter dito 'venho já'. Quando nunca mais lhe atendi o telefone. Adiante. Tinha o mapa das estradas traçado. O meu. Nunca foi muito diferente depois disso, a não ser que, outras vezes, foi também a mim que me deixaram pendurada na vida, sem o letreiro 'volto já'. Ou que não me atenderam o telefone. Mas os caminhos estavam traçados. E por acaso segui-os. O padrão que havia de seguir e errar e seguir e errar e errar e seguir. Adiante. Depois. Estava traçado. Para além disso, a única coisa que restou do Abel, de mim, da minha trança e do laçarote que me punha nela o meu avô Alberto, ainda é visível. E permanece. Está cravada, em letras monumentais, numa parede ao pé da casa dele (demasiado longe da minha, para que me alimente o ego) 'Amo-te B.' A B. sou eu, bem entendido.

Tuesday, November 29, 2005

Dia -36

A Poesia
Um dia a poesia dominará o mundo. Não é exactamente uma notícia de última hora. É certo.
Sinto uma certa forma de poesia que cresce comigo. Ao mesmo ritmo.
Um dia a poesia dominará o meu mundo. Porque é de poesia que se trata a cada gesto.
Cada palavra atirada contra muros de silêncio ou de indiferença. É de poesia que se trata cada posição que defendemos. É de poesia que se trata quando as dúvidas são a única coisa que nos resta. Para ver a verdade. Ou mais apropriadamente, as verdades. E até. Para vencer.
O medo.

Monday, November 28, 2005

Dia -35

O Passo
Dar um passo. Depois outro. Como é que se reduz a distância, só com passos? Como se reduz a estranheza?

Sunday, November 27, 2005

Dia -34

O Desejo
Estou transtornada. Oh pá. Deixa-me comer-te. Devagar. Que tenho pressa. Pressa de te comer. Devagarinho.

Saturday, November 26, 2005

Dia -33

A Voz
Tu sabes que não és tu. Que é a tua voz. Fico sem saber o que dizer. Quando te ouço.
A tua voz faz-me falta. Não sei porque razão. Talvez. Não seja necessária qualquer razão.
Talvez a única razão seja a tua voz. A única. A grande. Razão. E tenho medo. De deixar de ouvir a tua voz. E tenho medo. De continuar a ouvir a tua voz. E tenho medo que tu não sejas. A tua voz. E tenho medo que a tua voz. Não sejas. Tu. Tenho medo. Porra! Tenho medo. Estás aí? Tenho medo. Destas ondas. Tenho medo. Da tua voz.

Friday, November 25, 2005

Dia -32

O Mesmo
Sempre. Do mesmo modo. O mesmo. A mesma história. As mesmas conversas. A mesma troca.
A mesma coisa. Sempre. As mesmas pessoas, vestidas de outras. Mas as mesmas. O mesmo cigarro. Continuamente. A mesma cerveja. Preta. Sempre. A mesma conversa. O mesmo bar.
A mesma música, com outras notas. Mas a mesma. O mesmo livro. Com letras diferentes. Com histórias diferentes. Mas o mesmo. A mesma história. O mesmo planeta.
As mesmas razões para mudar. As mesmas para permanecer. Sempre a mesma treta.
Sempre o mesmo encanto. Sempre o mesmo desencanto.
Sempre o mesmo olhar em todas as pessoas. Sempre o mesmo.
Mesmo que seja estranho. A estranheza é a mesma.

Thursday, November 24, 2005

Dia -31

Desculpa&Obrigada
É mais forte que eu. Passo o tempo a pedir desculpa. E a dizer obrigada.
Desculpem.
E obrigada.

Wednesday, November 23, 2005

Dia -30

A Tristeza

É um estado passageiro. Tal e qual como a alegria. Devíamos lembrar-nos disto. Em ambos os casos.

Tuesday, November 22, 2005

Dia -29

A Reunião
Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.
Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.
Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.
Marcamos, então, outra reunião para a próxima semana. Para continuar a discussão.
Patati patata. Patata patati. E patati patata. Patata. Patati. Patati. Patata.

Monday, November 21, 2005

Dia -28

O Escritor
Há em Portugal um escritor que me faz chorar. E rir. E querer saber escrever como ele. Ter aquela capacidade de pôr lágrimas dentro de uma palavra. Ou sorrisos. Ou gargalhadas. Ou a vida toda dentro de uma palavra. Ninguém escreve como ele. Nunca ninguém escreverá como ele. Contra todas as mortes. As pequeníssimas e a derradeira.
Obrigada, António.

Sunday, November 20, 2005

Dia -27

O Ditador

Há trinta anos morria Francisco Franco. Hoje em 150 cidades do mundo passou o documentário realizado por seis jovens cineastas nascidos depois de 1975 - Entre o Ditador e Eu. Estes jovens nasceram depois da morte de Franco, já no caminho de Espanha para a democracia, sem violência, sem sobressaltos, sem rupturas fortes. Os seus pequenos filmes são tentativas de compreender o que se passou em Espanha antes do seu nascimento. A guerra civil, a ditadura. Tentativas de abrir um buraco no esquecimento colectivo. O que os seus documentários mostram é todo um povo que esqueceu. Ou que soube perdoar (não é o mesmo, afinal). De um modo ou de outro, um povo que não quer recordar, mas que apesar de tudo, abraçou a vida. Até ao futuro. Y que viva España!

Saturday, November 19, 2005

Dia -26

A Sopa
Tenho esta idade e nunca gostei muito de sopa. Comi hoje uma sopa que nunca tinha comido e que me reconciliou com todas as sopas, mesmo com as que rejeitei sempre. Comi uma sopa da pedra. Talvez pelo facto de parecer que se engoliu mesmo uma pedra da calçada, no fim, estou incapaz de ser contra o que quer que seja hoje. Especialmente a sopa.

Friday, November 18, 2005

Dia -25

O Trabalho

Tanta coisa para fazer. Tenho tanta coisa para fazer. Tanta. Tanta. Tanta.
Amanhã mesmo. Começarei.

Thursday, November 17, 2005

Dia -24

A Saudade

Não deviamos ter saudades. De nada. Nem ninguém. Estou aqui sentada. Sem fazer nada. Tenho os olhos (bem) abertos. Os sentidos alerta. a razão a funcionar. E esta coisa. Esta coisa no peito. Tenho tantas saudades tuas que nem consigo respirar. Não devíamos ter saudades. De nada. nem de ninguém. Não.

Wednesday, November 16, 2005

Dia -23

A Evidência
Ela perguntou-lhe. Passados tantos meses. Um ano, mais precisamente. Ela perguntou-lhe passado um ano. Qual é que achas que é o meu problema? Ele olhou-a. Fez um sorriso enorme. E um gesto largo com os braços. Abriu-os primeiro. Baixou-se com eles abertos. Ela percebeu. O problema dela era ser demasiado sufocante. Ele sentou-se novamente, com os braços ao longo do corpo. Olhou de novo para ela e sem sorrir disse. Talvez. Seja suposto ser mesmo assim. Contigo.

Tuesday, November 15, 2005

Dia -22

O Engate
Isabela era feia como, dizem, é a noite. Dizem. Não sei. Para mim a noite é sempre mais bonita que um dia qualquer. Mas Isabela era feia. Feia de fugir. Feia como uma máquina de lavar enferrujada que alguém deixa na beira da estrada. Isabela era feia. E estava sozinha. Sozinha como, dizem, um cão. Não sei. Vejo sempre cães em bando. Mas Isabela estava sozinha. S o z i n h a. Entrou Isabela no café. Não levava livros porque não gostava de ler. Não levava o telemóvel porque ninguém lhe telefonava. Não levava nada a não ser a sua fealdade e a sua solidão. Foi suficiente. Numa mesa do fundo, Aníbal, lindo de morrer. Não sei. Se morrer será assim tão bonito. No meio de um telefonema e com um livro virado para baixo, a mostrar as letras ao mármore, viu Isabela, feia e despojada entrar. Teve um 'coup de foudre'. Piscou-lhe o olho, sorriu-lhe, acenou-lhe de leve. Isabela nem pestanejou. Pensou: que pena, um homem tão bonito e cheio de tiques.

Monday, November 14, 2005

Dia -21

A Teia
Primeiro aproxima-se. E observa. E ajuíza. Pesa. Valoriza. Desvaloriza. Ajuíza de novo. Pesa novamente. Pensa. De si para si. Hum... Hum... pode ser. Tece. A primeira malha. A segunda. A terceira. A quarta. Consegue enredar. Enreda. Tece o enredo. Vê o filme todo. Atrapalha-se. Observa a teia. Pesa. Ajuíza. Valoriza. Desvaloriza. Corta os fios.

Sunday, November 13, 2005

Dia -20

O Fumo
Fumo até se me encherem os olhos de fumo. Não vejo um palmo à minha frente e no entanto, continuo. Fumando. Como quem não vê o que está para acontecer. Mais tarde. Ou mais cedo. Há-de acontecer. Por enquanto. Fumo

Saturday, November 12, 2005

Dia -19

A Coisa
Não ser grande coisa. Não ser uma pequena coisa. Uma coisa grande. Ou uma coisa pequena.
Ser uma coisa diferente. Uma coisa. Qualquer coisa.

Friday, November 11, 2005

Dia -18

O Telefonema
Estou. Sim, sou eu. Sim. Não tenho muito tempo. Estou num táxi. Não posso falar agora. Pois. Não. Não te amo. Disse? Pois. Mas não. Foi só uma atracção. Estas coisas acontecem. Sim. O quê? Acreditaste? Pois. Não quero saber que estejas mal. Vai falar disso com outra pessoa. Comigo não. Não, não acho que seja responsável pelo que estás a sentir. As minhas coisas? Fica com elas. O quê? Oh pá, não quero saber delas. Deita-as fora, faz o que quiseres. Sim. Não posso falar agora. Vou jantar. Com quem? Sozinho. Sim. Não gosto de ti, não. Mas podemos ser amigos. Sim, amigos, que é que foi? Não? Pois. Está bem. Se não queres, está bem. Não quero ver-te, não. Não quero falar contigo, não. Oh pá, vou desligar. Deixa-me em paz, sim? Se te disse que te amava enganei-me, queres que faça o quê? Foi uma atracção, já te disse. Vou desligar. Olha que eu desligo! Queres o quê? Não, já te disse que não te quero ver mais, nem falar contigo. Deixa-me desligar, anda lá. Esses jogos não. Não estou com paciência para jogos desses. Amas-me? Que queres que faça? A semana passada eu disse isso? Enganei-me. Anda, vai falar disso com outra pessoa. Já te disse que não. Não. A Paris? Se ainda vamos a Paris? Nunca se sabe o dia de amanhã. O quê? Pois. Não sei. Agora não posso falar. Já cheguei. Vou jantar. Já te disse, sozinho. Vou jantar sozinho. Vou desligar, agora. Vou desligar.

Thursday, November 10, 2005

Dia -17

A Manhã
Não sei com que se parecem as manhãs. Salto-as todas. Acordo tarde. Cada vez mais tarde.
Até quando?

Wednesday, November 09, 2005

Dia -16

A Troca
Não sei porque dramatizamos tanto o fim. Do que quer que seja.
Por cada coisa, pessoa, situação, etc. que acaba, aparecem sempre outras. Novas. Para a troca.

Tuesday, November 08, 2005

Dia -15

A Solução
Como dizem os chineses:
se um problema tem solução está resolvido.
Se não tem solução, também está resolvido.
Ou seja, não vale a pena pensar muito nos problemas. Mas sim nas soluções, caso existam.

Monday, November 07, 2005

Dia -14

O Sol de Inverno
Gosto do sol. Só no Inverno.

Sunday, November 06, 2005

Dia -13

O Livro
Devolve-me o livro que te dei quando pensei que gostava de ti. Não gostava. Afinal o livro faz-me bastante mais falta que tu.

Saturday, November 05, 2005

Dia -12

O Cinema
Gosto muito de cinema. Mesmo. Tanto que não sou capaz de ver filmes na televisão. Só numa sala. De cinema. De preferência sozinha. Gosto tanto de cinema que a maior parte das vezes penso 'tirem-me deste filme'.

Friday, November 04, 2005

Dia -11

O Horóscopo
Não percebo. Se percebesse e acreditasse. Se acreditasse sem perceber.
Talvez fosse mais feliz. A culpa nunca seria minha. Nem dos outros. Mas dos astros.

Dia -10

O Recado
Queria dizer-te. Dizer-te que sei. Sei algumas coisas. E nem sei eu nem sabes tu do que serei capaz de fazer com aquilo que sei. Tanto certamente como tudo o que serei capaz de fazer com aquilo que não sei. A (ir)racionalidade tem meandros pouco claros. E no entanto quase tudo é perfeitamente racional e calculado. Mesmo o que ainda não sei que sou capaz de fazer. Mesmo o que só imagino fazer nos meus mais delirantes pensamentos. Todos contra ti. Nem um só a teu favor. Incendiar-te a casa. Partir-te as duas mãos. Vazar-te os olhos. Reduzir-te a pó. Reduzir-te a nada. Nem sequer a um vago pensamento que de vez em quando me atravessaria a mente. Reduzir-te não. Eliminar-te de todos os meus itinerários. Eliminar-te de mim. Compreendo agora, como nunca compreendi antes, alguns actos completamente vis que um ser humano é capaz de praticar contra outro ser humano. E fá-los-ia. Se.
Se não fosse esta ténue sensação de que ainda sou humana
Se. Se não fosse esta sensação de que somos cartilagens de asas de pássaro. Ambos.
Se não fosse isso partia-te a cara, as duas pernas, os dentes. Queimava-te o cabelo. Destruía-te os sonhos que ainda te restam. Rasgava-te os livros. Despedaçava-te os discos. Comia-te o coração e exigiria que a tua cabeça me fosse oferecida numa travessa.
Uma coisa sei. Eu não sou assim. Mas estou assim. Tomada de assalto por este concreto sentimento de raiva. Por esta concreta dor de não saber a razão. De saber que nunca saberei a razão.
Tenho de ter cuidado comigo.
Nunca se sabe o que serei capaz de fazer com as coisas que não sei.

Wednesday, November 02, 2005

Dia -9

A Sorte
Primeiro o piano. Depois o saxofone. Depois o clarinete. E de novo o saxofone. A bateria. O contrabaixo. A vida seria muito menos interessante se o Jazz não existisse. E se eu não tivesse sorte. A sorte de em cinco dias poder assistir a três grandes concertos. Primeiro o Uri Caine, a solo. Depois o David Binney, em sexteto. Finalmente, amanhã, o trio maravilha: Aldo Romano, Louis Sclavis e Henri Texier. Tenho mesmo sorte. Hei-de lembrar-me da sorte que tenho quando me passar pela cabeça armar-me no que não sou: forte.

Tuesday, November 01, 2005

Dia -8

O Medo
Tens tanto medo que não respiras. Tens tanto medo que apagas tudo.
Como se fosse possível apagar tudo. Apagar a memória.
Apagar o medo do que ainda está para vir. Olhas as fotografias e tens medo.
Olhas aquela cara, agora estranha, e tens medo.
Sabes que tens medo e que não podes fugir para sítio nenhum.
Estás pendurado num estranho sítio. Não podes sair. Não podes fugir.
Tinhas de matar. Sem morrer. O amor é como a guerra. Aprende a matar. Aprende a fugir.
Aprende a separar os teus inimigos dos teus amigos. Aprende a viver. Com medo.