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Tuesday, June 30, 2009

Dia -1345

Eleições, cidadãos, participações...

seja para o governo, para a autarquia, para a universidade, para a sociedade desportiva... é assim que somos. É ou não é?

Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo

Agora sim, damos a volta a isto!

Agora sim, há pernas para andar!

Agora sim, eu sinto o optimismo!

Vamos em frente, ninguém nos vai parar!

-Agora não, que é hora do almoço...

-Agora não, que é hora do jantar...

-Agora não, que eu acho que não posso...

-Amanhã vou trabalhar...

Agora sim, temos a força toda!

Agora sim, há fé neste querer!

Agora sim, só vejo gente boa!

Vamos em frente e havemos de vencer!

-Agora não, que me dói a barriga...

-Agora não, dizem que vai chover...

-Agora não, que joga o Benfica...

e eu tenho mais que fazer...

Agora sim, cantamos com vontade!

Agora sim, eu sinto a união!

Agora sim, já ouço a liberdade!

Vamos em frente, e é esta a direcção!

-Agora não, que falta um impresso..

-Agora não, que o meu pai não quer...

-Agora não, que há engarrafamentos...

-Vão sem mim, que eu vou lá ter...

Saturday, June 13, 2009

Dia -1328

What the fuck!?!?

I am mesmerized with the fact that almost everyone in Portugal is very happy with the fact that Cristiano Ronaldo is going to earn 20 000 euros a day.
I am not.
I do not even know who the fuck is Cristiano Ronaldo
and what the fuck does he do...

Thursday, June 11, 2009

Dia -1327

Ok, eu admito...

que se fosse italiana teria muito mais vergonha do meu país.

Wednesday, June 10, 2009

Dia -1326

Não sabia que era uma opção...

Ouvi agora o discurso do Exmº Senhor Presidente da República, a propósito do 10 de Junho, no qual exortava os cidadãos a não quererem deixar de ser portugueses.
Não sabia que era uma opção.
Estou mais aliviada.
Sendo assim, eu quero ser espanhola*.


(* ou servo-croata, ou romena, ou albanesa, ou alemã, ou inglesa, ou norueguesa, ou sueca, ou finlandesa, ou holandesa, ou francesa, ou irlandesa, ou islandesa, ou luxemburguesa, ou italiana, ou belga, ou grega, ou suiça, ou monegasca, ou estoniana, ou lituana, ou búlgara, ou... outra coisa qualquer)

Tuesday, June 09, 2009

Sunday, June 07, 2009

Dia -1323

Puta que (nos) Pariu

Este país não existe.
Os portugueses não existem.
E pior.
Não querem existir.
Tal como o país.
Este país é uma merda e nós só temos aquilo que merecemos.
Tenho uma vez mais vergonha de ser portuguesa.
Mas acho que sou só eu.

Friday, June 05, 2009

Dia - 1321

Votem contra...


os vitais, as laurindinhas, os nunos melos, os rangeis, os mms. para mim, só há um voto possível (vá, talvez dois) e não, não é em branco. desta vez, não é em branco.

nem desta vez, nem das duas vezes que se seguem.

que nada vos faça ficar em casa. mesmo votando com caras infelizes (como a minha).

votem contra.

votem, porra!

Thursday, May 28, 2009

Dia -1313

Este é o ano de todas as eleições, em Portugal... (2)

E eu, ao ouvir as campanhas dos vários partidos, movimentos, etc. que são candidatos às eleições europeias... continuo com uma cara...


não é só de infelicidade
face à pobreza discursiva, à pobreza de ideias, à tacanhez das abordagens...
é de espanto
... como é que é possível, meu deus, como é que é possível??


E o pior é que acho que nós, pacatíssimos cidadãos, é que temos a culpa disto.

Tuesday, May 26, 2009

Dia -1311

Este é o ano de todas as eleições, em Portugal...


e eu sinto-me assim. Tal e qual.


(e ando com uma cara, a infeliz)

Sunday, May 17, 2009

Dia -1302


Estive a pensar sobre as Eleições Europeias e...


depois de ver a Drª Manuela Ferreira Leite, numa espécie de publicidade à Linha SOS Suicídio


O Dr. Vital Moreira, igualzinho ao avô cantigas ou ao Gepetto (como preferirem)




A Drª Ilda Figueiredo, igual a si mesma



E o Dr. Miguel Portas (coitadinho...)




Cheguei à conclusão que, por uma vez, o Berlusconi terá razão*** ao escolher esta senhora, dançarina de televisão

(Barbara Matera)

ou esta outra, concorrente da versão italiana do Big Brother

(Angela Sozio)

ou ainda esta actriz

(Eleonora Gaggioli)

como candidatas.

É que, para aquilo que os deputados europeus fazem...

sei lá, ao menos as moças sempre alegram uma sala (ou mesmo duas, vá)

(*** obviamente os caros leitores estão mesmo a precisar de consultar um oftalmologista... é que eu nunca disse isto a propósito do político mais imbecil da actualidade)




Monday, March 02, 2009

Dia -1225

A mim...
os políticos
(não ainda a política)
repugnam-me.

Saturday, December 06, 2008

Dia -1134

E assim se faz Portugal... *


(clicar na imagem para aumentar)


a jogar a berlindes.


* Fausto, da canção Uns vão bem e outros mal

Friday, August 22, 2008

Dia -1028

Vivo no Burkina Faso e nao em Portugal
(ou... tenho tanta vergonha de ser portuguesa)

Nao ha acentos neste teclado (nem cedilhas). Nao estou no Burkina Faso.
Estou em Berlim.
E gosto da cidade.
Viajei de Lisboa para Praga no dia 19 de Agosto. Pensei fazer (e fiz) a viagem de comboio entre Praga e Berlim. Sao so 4 horas e meia e a paisagem e magnifica.
E afinal eu gosto de comboios.
A minha bagagem nao viajou comigo.
Ainda nao tenho a bagagem 4 dias (e um enredo de telenovela mexicana muito mal dobrada em brasileiro) depois.
Em Praga as senhoras que trabalham com a TAP mal sabem 3 palavras em ingles*.
Solicito ao Aeroporto de Lisboa que a bagagem me seja enviada para Berlim.
Que sim, segue dia 20, sem falta.
Nao chegou.
Mais telefonemas (para o call center da TAP (nos compreendemos minha senhora e a palavra de ordem qual disco riscado), para a Groundforce (esteja descansada minha senhora, a mala ja seguiu num voo para Berlim, via Munique... ou num voo para Berlim via Frankfurt), para o 'Fale Connosco', o servico de apoio ao cliente da TAP)
Que sim, segue dia 21 de manha sem falta.
Nao chegou.
Mais telefonemas.
Que sim, segue dia 22 de manha.
Nao chegou.
Mais telefonemas.
Que sim, segue dia 22 a noite.
Nao sei. Acho que tambem nao vai chegar.
Era um misero voo directo entre Lisboa e Praga.
A mala (por ser um voo directo)
contem documentos importantes de trabalho.
toda a minha roupa**
e muitas coisas mais.
Afinal so regresso a Lisboa dia 30 de Agosto.
Domingo saio de Berlim em direccao a Brno, na Republica Checa.
A seguir para Praga de novo.
A mala? Apesar de aparentemente a conseguirem localizar... eu comeco a duvidar que alguma vez tenha existido uma mala, que a tenha colocado no tapete em Lisboa aquando do Check In.
Mais... estas coisas, os erros, acontecem, naturalmente... mas tantos erros em 4 dias? E surreal!
Entretanto aprecio Berlim. Gostava de viver na Alemanha, um pais onde toda a gente e civilizada, onde nos tratam como pessoas e nao como numeros num processo.
Viajo bastante. Apenas uma vez (ok, tenho sorte) a minha bagagem se perdeu.
Foi na Noruega. Um pais a serio, portanto.
Em Oslo o funcionario disse-me va para Trondheim (o meu destino final, naquele caso) e logo quando chegar ao hotel, eu digo-lhe onde esta a sua mala e a que horas a recebera amanha.
Acreditam que a mala me foi entregue no hotel exactamente, mas exactamente, a hora que o senhor me disse?
Sim, a Noruega e um pais a serio.
Nao e Portugal.


Bem sei, bem sei, uma mala e uma mala, trata-se apenas de uma mala.
Deveria estar (e estou) agradecida aos ceus porque o aviao nao caiu.


*E nao, nao creio que o mundo inteiro se deva submeter a ditadura do ingles. Mas quando se trata de um aeroporto internacional, neste caso de servicos prestados a passageiros que na sua maioria nao falam checo (quem e que fala checo para alem dos checos?), seria desejavel que alguem falasse e compreendesse de forma razoavel a lingua inglesa (ou outra qualquer lingua para alem do checo)... mas nao.


** Quer dizer, nao toda a minha roupa. Toda a minha roupa para os 10 dias em que estarei fora, claro.

Saturday, March 08, 2008

Dia -861

Mulheres Como Nós...

Joan Miró - Tres Mujeres


... ou talvez ainda não.


Ver
aqui e aqui porque sim ou porque não.

Wednesday, February 20, 2008

Dia -844

Não sei porquê... a sério, não sei porquê...

mas apeteceu-me ouvir isto outra vez*.


De qualquer maneira, é triste, o abandono de uma espécie de mito.
Mesmo imperfeito, como todos, o homem que hoje renuncia,
é um herói.
E este outro era também um herói muito imperfeito.
E juntos há muitos anos. Sonharam um mundo.
Imperfeito. Como todos.
Hasta Siempre.


*pronto eu gosto desta música, está bem? É por isso que esta é a quarta vez que ela aqui aparece, numa outra versão.

Tuesday, September 25, 2007

Dia -699

Estatura


Eu é que não tenho estatura para esta merda a que chamam política!


(E mais informo que nem sequer tenho simpatia por nenhum dos senhores em causa, nem por praticamente nenhum dos militantes do seu partido. Excepto o Pacheco Pereira. Mas esse é um tipo com coluna vertebral. O que para a política não conta, já se vê)

Tuesday, July 10, 2007

Dia -623

Olé!!

- Então e tu? De que clube és? Do benfica ou do sporting?
- Não sou de clube nenhum.
- ?!?? como?!?? Todos os portugueses têm um clube!

Então é isso!
Ou é por isso!

Sunday, June 10, 2007

Dia -593

10 de Junho

Viva a Espanha!
(e a República Checa e a Hungria e a Polónia e a Roménia e a Áustria e a Irlanda e a Grã-Bretanha e a França e a Itália e a...

Thursday, May 31, 2007

Dia -583

Por falar em coisas que andamos a precisar...
vamos lá aqui ouvir isto tudo até ao fim e
a seguir fazer qualquer coisa que se veja e que se sinta!

FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!
FMI
Não há graça que não faça o
FMI
FMI
O bombástico de plástico para si
FMI
Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI
Não há truque que não lucre ao
FMI
FMI
O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI
Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI
Não há lenha que detenha o
FMI
FMI
Não há ronha que envergonhe o
FMI
FMI ...
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?A one, a two, a one two three
FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?
FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
José Mário Branco - FMI
Tirado daqui