Wednesday, December 31, 2008

Dia -1159

E para 2009

Girassóis
Gaivotas
Estrelas
Pedras
Vacas
Gatos
Castanheiros
Jazz
Livros
Amigos
Conversas
Vento
Gargalhadas

e Tempo.
Muito Tempo.

Tuesday, December 30, 2008

Dia -1158

Pronto
também eu aderi ao Facebook. Mas não encontro nenhum colega do liceu Gil Vicente. Nem do ISCTE. Bah.

Sunday, December 28, 2008

Dia -1156

The Picturegoers

O Natal também é isto. Ou seja. A oportunidade de ver vários filmes que nunca chegarão à província onde habitualmente vivo.
Além de Hunger, vi outro filme fabuloso: Três Macacos.
Também O Silêncio de Lorna. Caos Calmo (pela segunda vez) e Amália (este, bem... deveres de filha).
Ainda me falta ver Quatro noites com Ana, Sim e Austrália.
Mas o Natal ainda não acabou.
E talvez ainda estreie antes do Natal acabar Waltz with Bashir.

Saturday, December 27, 2008

Dia -1155

Lembram-se de Bobby Sands?


Hunger, de Steve McQueen

ou um filme demasiado verdadeiro.

Sunday, December 21, 2008

Dia -1149

Women




Só 'estrelas', todas com roupas absolutamente fantásticas, com cabelos absolutamente fantásticos, com casas absolutamente fantásticas, enfim... bah.
E Meg Ryan com botox (ou lá o que é) a mais, no papel de sempre.


Nothing special.



As boas notícias são que Caos Calmo estreou em Portugal.


Em Março vi-o em Bolonha.


Em Setembro li o livro de Sandro Veronesi.


Agora vou ver o filme outra vez. Por muitas razões. Sendo a principal il signore Nanni Moretti. Claro!

Friday, December 12, 2008

Dia -1140

Natal outra vez...

e eu atrasadíssima na compra das prendas.

De facto ainda não comprei nem uma.

Mas isso não é, obviamente razão para que eu não vos deseje um

Feliz Natal



(Elvis Presley - Merry Christmas Baby)

Saturday, December 06, 2008

Dia -1134

E assim se faz Portugal... *


(clicar na imagem para aumentar)


a jogar a berlindes.


* Fausto, da canção Uns vão bem e outros mal

Tuesday, December 02, 2008

Dia -1130

Aprendi a matar bem mais do que penso...*

(enviada por mms, há uns 4 anos atrás, era Dezembro, por acaso)

* frase de Aprendi a Amar, de Sérgio Godinho

Wednesday, November 26, 2008

Dia -1124

Obrigada pelos Dardos, Divas&Contrabaixos


«Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogger emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os bloggers, são uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web. Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:1 - Exibir a distinta imagem;2 - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;3 - Escolher quinze (15) outros blogues a quem entregar o Prémio Dardos.»

Entrando na dança:

1.



2.


Divas&Contrabaixos


Obrigada de novo.


3.


Almocreve das Petas


Avatares de um Desejo


A Natureza do Mal


Dançamos no Mundo


Endrominus


F_World


Insónia


Lida Insana


Mentes Inquietas


O Regabofe


Peão


Respirar o Mesmo Ar


The Cat Scats


Welcome to Elsinore


Zumbido

Tuesday, November 25, 2008

Dia -1123

Um Bem-haja aos Homens que Não São Cúmplices

2008 tem sido um ano negro da violência doméstica em Portugal. Homicídios e tentativas de homicídio ultrapassam os números dos últimos 5 anos. Apesar de toda a consciencialização social, os dados apontam para um agravamento do problema. Urge, pois, enfrentá-lo com respostas mais eficazes.Neste sentido, a UMAR lança uma campanha dirigida aos homens para que estes se solidarizarem com as vítimas de violência, retirarem o apoio aos agressores e se demarcarem publicamente dos seus actos.A campanha "Eu Não Sou Cúmplice" tem o objectivo de mobilizar as energias masculinas para esta batalha dos direitos humanos que está longe de estar ganha.Se repudia toda e qualquer violência contra as mulheres, comprometendo-se na consciencialização e intervenção social da sociedade para a igualdade de género e promoção de uma cultura de não violência;Se apela a todos os homens que não sejam cúmplices e testemunhas passivas da violência contra as mulheres, faça-se ouvir:


Assine a petição.


Assine! Divulgue!

Monday, November 24, 2008

Dia -1122

somecenamreP

e os dias tristes
serão sempre
os dias tristes

Wednesday, November 19, 2008

Dia -1117

Permanecemos

Os dias em que fomos felizes,
serão sempre
os dias em que fomos felizes.

Wednesday, November 05, 2008

Dia -1103

Yes, they can, but...


... só tenho uma verdadeira inquietação: irá o Michael Moore deixar de fazer filmes?

Tuesday, November 04, 2008

Dia -1102

Dificuldades


Habitualmente não vejo o que é evidente.
Frequentemente me acusam, no entanto, de ver coisas, onde não existe nada.

Thursday, October 30, 2008

Dia -1097

O meu pode ter 1 metro e 90 e olhos azuis?

Wednesday, October 29, 2008

Dia -1096

Senza commenti

essere abbracciato da te è come essere abbracciato dal mondo

Saturday, October 25, 2008

Dia -1092

È arrivato... l'autunno

Parco Nazionale delle Foreste Casentinesi, 18/10

Saturday, October 11, 2008

Dia -1078

Vou às Termas*

* Não exactamente para ir às Termas, mas para trabalhar.

Ainda assim há-de haver tempo (oh se há-de!) para ser massajada.

Tuesday, October 07, 2008

Dia -1074

Sabem?

A minha estação preferida está a chegar.
Insinua-se lentamente nos meus ossos.
Se eu fosse outra pessoa, sabem?
O homem do café.
A mulher do prédio em frente.
A senhora da padaria que (até quando)
me chama menina.
Aquele rapaz muito alto de sorriso luminoso que às vezes vejo.
O homem que se perdeu um dia para os lados do mar.
A mulher que atravessa pontualmente a rua com uma garrafa na mão
e na cara as marcas da sífilis.
Insinua-se lentamente nos meus ossos.
O frio, não.
A solidão do inverno.

Monday, October 06, 2008

Dia -1073

Mais um para não ver as horas lá muito bem...


Sunday, October 05, 2008

Dia -1072

A Song For You, Goodbye



I’ve been in so many places in my life
in time
I’ve sang a lot of songs
I’ve made some bad rights
I acted out my life on stages
With ten thousand people watching
But we’re alone and I am singing this song for you
I know your image of me
is what I hope to be
I treated you unkindly
but baby can’t you see?
There is no one more important to me
so can you please see through me?
cause we’re alone and I am singing this song for you
You taught me precious secrets of the truth
with holding nothing
you came out in front
and I was hiding
but now I am so much better
and if my words don’t come together
listen to the melody
cause my love’s in there hiding
cause my love’s in there hiding
I love you in a place
where there’s no space or time
I love you for my life
you are a friend of mine
And when my life is over
remember when we were together
we’re alone and I was singing this song for you
I’ll never forget you
I’ll never forget you
I’ll never forget how we promise one day
to love one another forever that way
we said we’d never say goodbye
but that was long ago
and you’d forgotten, I know
no use to wonder why
let’s say farewell with a sigh
and let love die
But we will go on living
our own way of living
so you take the high road
I’ll take the long
It’s time that we parted
it’s much better so
so kiss me as you go
Goodbye

Shirley Horn – A Song For You, Goodbye


Friday, October 03, 2008

Dia -1070

Giro... Vedo gente... Mi muovo... Faccio delle cose...*




*Ou como responder correctamente à pergunta - o que fazes na vida?


(Ecce Bombo, de Nanni Moretti)

Thursday, October 02, 2008

Dia -1069

When I went out with this sociology major I became very bitter and pissed off and I don't know why but it had something to do with global multinational corporations...


so... never date a sociologist.


(ou as coisas que se aprendem com as Tales of Mere Existence, de Lev Yilmaz)

Friday, September 26, 2008

Tuesday, September 23, 2008

Dia -1060

Overreactions and stuff...

Tenho tendência para reagir exageradamente a certas coisas.
Acho que conhecem algumas delas.

No entanto é raríssimo levantar a voz ou gritar.
Não acredito que gritando me ouçam melhor.
Ao contrário...
parece-me que quanto mais me gritam, menos eu ouço.



Monday, September 22, 2008

Dia -1059

O ano ainda não acabou.
Mas parece-me que começa aquela altura em que vamos
(nos deixamos ir)
apenas pelos lugares.

Girona - Fevereiro de 2008



Mantua, Março de 2008


Dolomitas, Março de 2008

Trento, Março de 2008

Bolonha, Março de 2008



Valência, Abril de 2008


Londres, Maio de 2008

Toscana, algures, Julho 2008

Raggiolo , Julho de 2008

Florença , Julho de 2008


Pisa, Julho de 2008


Arezzo, Julho de 2008

Toscana, algures, Julho de 2008

Roma, Julho de 2008


Roma, Julho de 2008

Berlim, Agosto de 2008


Berlim, Agosto de 2008


Brno, Agosto de 2008


Praga, Agosto de 2008

Praga, Agosto de 2008

Thursday, September 11, 2008

Wednesday, September 10, 2008

Dia -1047

Não é (também) um belo objecto...

o meu relógio de hoje?

Monday, September 08, 2008

Dia -1045

Os Relógios e as Horas

Tenho uma paixão por relógios.
Não por todos, naturalmente.
Embora despreze, tanto quanto me é possível, o tempo,
gosto de (alguns) dos belos objectos que usamos para o medir.
Agora há pouco, na fila do bar, alguém que não conheço disse-me:
tem um relógio tão bonito!


Tenho mesmo. Hoje tenho este. Mas tenho muitos. Belos objectos como este.
Às vezes perguntam-me, dado que nenhum dos meus magníficos relógios tem números:

mas consegues ver as horas???

A minha resposta é só uma:

que é que isso interessa?

O tempo é só aquilo que fazemos.


Sunday, September 07, 2008

Dia -1044

Uma boa filha regressa sempre ao colo do pai

Thursday, September 04, 2008

Dia -1041

Haverá por aí algum(a) benemérito(a)...

que me dê um destes, verde e tudo,

com mudanças automáticas,

entregue à minha porta, com um laçarote em cima?

Não?

Pois... bom... era só para saber.

Tuesday, September 02, 2008

Dia -1039

É Raro...

eu ler o livro depois de ver o filme.
Aconteceu duas vezes: Com Alta Fidelidade (filme de Stephen Frears, Livro de Nick Hornby) e agora com os (ambos) magníficos filme (de Antonio Luigi Grimaldi) e livro (de Sandro Veronesi)

Monday, September 01, 2008

Dia -1038

(Escre)ver-me


nunca escrevi

sou
apenas um tradutor de silêncios

a vida tatuou-me nos olhos
janelas
em que me transcrevo e apago

sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar

- Mia Couto -

Friday, August 22, 2008

Dia -1028

Vivo no Burkina Faso e nao em Portugal
(ou... tenho tanta vergonha de ser portuguesa)

Nao ha acentos neste teclado (nem cedilhas). Nao estou no Burkina Faso.
Estou em Berlim.
E gosto da cidade.
Viajei de Lisboa para Praga no dia 19 de Agosto. Pensei fazer (e fiz) a viagem de comboio entre Praga e Berlim. Sao so 4 horas e meia e a paisagem e magnifica.
E afinal eu gosto de comboios.
A minha bagagem nao viajou comigo.
Ainda nao tenho a bagagem 4 dias (e um enredo de telenovela mexicana muito mal dobrada em brasileiro) depois.
Em Praga as senhoras que trabalham com a TAP mal sabem 3 palavras em ingles*.
Solicito ao Aeroporto de Lisboa que a bagagem me seja enviada para Berlim.
Que sim, segue dia 20, sem falta.
Nao chegou.
Mais telefonemas (para o call center da TAP (nos compreendemos minha senhora e a palavra de ordem qual disco riscado), para a Groundforce (esteja descansada minha senhora, a mala ja seguiu num voo para Berlim, via Munique... ou num voo para Berlim via Frankfurt), para o 'Fale Connosco', o servico de apoio ao cliente da TAP)
Que sim, segue dia 21 de manha sem falta.
Nao chegou.
Mais telefonemas.
Que sim, segue dia 22 de manha.
Nao chegou.
Mais telefonemas.
Que sim, segue dia 22 a noite.
Nao sei. Acho que tambem nao vai chegar.
Era um misero voo directo entre Lisboa e Praga.
A mala (por ser um voo directo)
contem documentos importantes de trabalho.
toda a minha roupa**
e muitas coisas mais.
Afinal so regresso a Lisboa dia 30 de Agosto.
Domingo saio de Berlim em direccao a Brno, na Republica Checa.
A seguir para Praga de novo.
A mala? Apesar de aparentemente a conseguirem localizar... eu comeco a duvidar que alguma vez tenha existido uma mala, que a tenha colocado no tapete em Lisboa aquando do Check In.
Mais... estas coisas, os erros, acontecem, naturalmente... mas tantos erros em 4 dias? E surreal!
Entretanto aprecio Berlim. Gostava de viver na Alemanha, um pais onde toda a gente e civilizada, onde nos tratam como pessoas e nao como numeros num processo.
Viajo bastante. Apenas uma vez (ok, tenho sorte) a minha bagagem se perdeu.
Foi na Noruega. Um pais a serio, portanto.
Em Oslo o funcionario disse-me va para Trondheim (o meu destino final, naquele caso) e logo quando chegar ao hotel, eu digo-lhe onde esta a sua mala e a que horas a recebera amanha.
Acreditam que a mala me foi entregue no hotel exactamente, mas exactamente, a hora que o senhor me disse?
Sim, a Noruega e um pais a serio.
Nao e Portugal.


Bem sei, bem sei, uma mala e uma mala, trata-se apenas de uma mala.
Deveria estar (e estou) agradecida aos ceus porque o aviao nao caiu.


*E nao, nao creio que o mundo inteiro se deva submeter a ditadura do ingles. Mas quando se trata de um aeroporto internacional, neste caso de servicos prestados a passageiros que na sua maioria nao falam checo (quem e que fala checo para alem dos checos?), seria desejavel que alguem falasse e compreendesse de forma razoavel a lingua inglesa (ou outra qualquer lingua para alem do checo)... mas nao.


** Quer dizer, nao toda a minha roupa. Toda a minha roupa para os 10 dias em que estarei fora, claro.

Wednesday, August 13, 2008

Dia -1019

101 Dias (a Menos) Depois...

regresso para dizer que 101 dias são apenas uns breves instantes.
Mas acho que
(fui)
ainda sou
mais ou menos
feliz.

Sunday, May 04, 2008

Dia -918

... mas depois...

penso que podia ser um destes. Ao sol.
Um pequeno gato.
Um minúsculo gato.
Ao sol.
E recomeço (ou não) a contagem de dias a mais e a menos.
Os balanços de deve e haver.
Deve
Haver
Uma
Dimensão
Melhor
Que
Esta
e
parece
(mesmo)
que os gatos
a
conhecem
(ou talvez seja só do sol)










Thursday, April 03, 2008

Dia -887

Cansei-me...

de contar os dias a menos para a morte.
Ou talvez apenas tenha realizado que a contagem dos dias não tem qualquer importância.
Nem a mais.
Nem a menos.
É melhor, sempre, viver os dias.
Como se fossem todos únicos.
Como se cada um deles fossem dias roubados à morte.
Vou fazer isso.
Por tempo indeterminado.


(vou continuar, de forma intermitente, como até aqui, no
Bebedeiras de Jazz)

Friday, March 28, 2008

Dia -881

Alguém me explica...

porque é que os homens quando nos querem conquistar fazem tudo e mais alguma coisa...
são amorosos. Atenciosos. Cavalheiros. Cuidadosos. Fogosos. Românticos. Etc. Etc.
E depois, quando acham que já nos conquistaram,
começam a comportar-se de forma bastante diferente?
É que esta verdade quase universal, apesar dos meus 41 anos,
não deixa nunca de me surpreender... pela negativa, claro.
Primeiro porque a conquista deve ser um processo e não um fim...
depois porque tenho paciência zero para mudanças bruscas de comportamento!
(É que as minhas próprias variações já me dão que fazer, não é?)

Thursday, March 27, 2008

Dia -880

E por vezes o coração


Trento, Março 2008

...fica pendurado, do lado de fora. À porta.

Wednesday, March 26, 2008

Dia -879

Yeah Yeah Yeah!

Duffy - Mercy


I love you
but i gotta stay true
my morals got me on my knees
im begging please stop playing games

i dont know what this is
cos you got me good
just like you knew you would

i dont know what you do
but you do it well
I’m under your spell

You got me begging you for mercy
why wont you relase me
you got me begging you for mercy
why wont you release me
I said release me

Now you think that i
will be something on the side
but you got to understand
that i need a man
who can take my hand yes i do

i dont know what this is
but you got me good
just like you knew you would

i dont know what you do
but you do it well
I’m under your spell

Tuesday, March 25, 2008

Saturday, March 22, 2008

Dia -875

Bisogna...

di dirsi tutte le cose. Sempre.

Pietro (ou Nanni Moretti) em Caos Calmo)

Friday, March 14, 2008

Dia -867

Say you do...



Miss Nina Simone - Wild is the Wind

Love me love
me love me
Say you do
Let me fly away
with you
For my love is like
the wind
And wild is the wind

Give me more
than one caress
Satisfy this
hungriness
Let the wind
blow through
your heart
For wild is the wind

You...
touch me...
I hear the sound
of mandolins
You...
kiss me...
With your kiss
my life begins
You're spring to me
All things
to me

Don't you know you're
life itself
Like a leaf clings
to a tree
Oh my darling,
cling to me
For we're creatures
of the wind
And wild is the wind
So wild is the wind

Wild is the wind
Wild is the wind

Saturday, March 08, 2008

Dia -861

Mulheres Como Nós...

Joan Miró - Tres Mujeres


... ou talvez ainda não.


Ver
aqui e aqui porque sim ou porque não.

Friday, March 07, 2008

Dia -860

Não...

se partilha a solidão. Não se partilham os magoados silêncios. Não se partilha a própria liberdade. Não se partilha o que somos.
Na verdade há pouco que se partilhe, para além da matéria.
Ou seja.
O corpo.
O pão.
A casa.
Certos livros.
Alguns discos.
As mãos às vezes. Mas pouco, já que sentem.
Não.
Não se partilha para além disto.
Nunca.
Nem a própria ilusão que partilhamos.
Sequer

Thursday, March 06, 2008

Dia -859

Há Dias...

em que o silêncio enlouquece.

Wednesday, March 05, 2008

Dia -858

Março

é este mês sempre difícil.
Mas há, por enquanto, uma promessa de vida no meu coração.
E a música.
Esta por exemplo.


Elis Regina - Águas de Março

Tuesday, March 04, 2008

Dia -857

(in)significâncias

sem-se-ver queres tu saber das minhas insignificâncias ou das que, nos outros me irritam?
As minhas podem ser:
1) não saio de casa sem fazer a cama
2) não saio de casa sem lavar a louça do pequeno almoço
3) não me deito antes das 4 da manhã
4) gosto de estrelas mas não sei dizer o nome de nenhuma delas
5) tiro sempre fotografias a gatos, em qualquer sítio onde vá
6) só gosto de chocolate negro, muito amargo

Nos outros, há muitas, mas as que a eles lhes parecerão talvez insignificantes e que a mim me irritam são:
1) que o carro que vai atrás de mim na estrada se cole ao meu e acenda os máximos repetidamente
2) que as pessoas comam pipocas no cinema e sorvam a coca-cola
3) que as pessoas não consigam desligar o telemóvel (nas aulas, no cinema, no teatro, nos transportes públicos, nos restaurantes, etc)
4) que as pessoas digam coisas que nunca poderão cumprir
5) que me perguntem à saída do cinema (das poucas vezes em que vou acompanhada): então, gostaste?
6) que me ofereçam flores no dia internacional da mulher.

Passo a cadeia a quem a quiser seguir.



Monday, March 03, 2008

Dia -856

Descompressão

inspirar fundo. deitar o ar todo fora devagar.
sou eu outra vez.
e sabe bem dizer-me olá.


Sunday, March 02, 2008

Tuesday, February 26, 2008

Dia -850

Cada dia


é um abismo atómico.


Herberto Helder -
deixarei os jardins a brilhar com seus olhos

Monday, February 25, 2008

Dia -849

Quoting Mr. Jack Nicholson

Well, I love movies...

foi por isso que fiquei a ver os óscares até ao fim.
Hoje pareço uma zombie.
O que, na verdade, é muito cinematográfico.

Gostei particularmente do Javier Bardem dizendo
isto es para España.
Olé!

Também gostei da abertura da Academia.
Melhor Actor, Melhor Actriz, Melhor Actor Secundário, Melhor Actriz Secundária...
todos não americanos. Todos grandes actores e actrizes.

E os irmãos Coen finalmente e com muita pinta lá ganharam o óscar de melhores realizadores com o filme No Country for Old Men.

E o politicamente incorrecto John Stewart...
Analisem bem todos os candidatos
(à Presidência dos EUA)
e depois votem num dos democratas!
Claro!

Sim, podem dizer que nada daquilo espelha coisa nenhuma.
Um desfile de vaidades.
Até concordo.
Mas isso agora não me interessa mesmo nada.

Sunday, February 24, 2008

Dia -848

Os Óscares

Hoje não posso ver a cerimónia até ao fim.
Da lista de filmes nomeados ainda só vi um.
Nunca deram um óscar ao pato Donald!
Bah!

Saturday, February 23, 2008

Dia -847

Uma Definição para o Amor (I)

fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre

sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. O amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.

José Luís Peixoto in A Criança em Ruínas

Friday, February 22, 2008

Dia -846

Parabéns Pai!

E aqui fica um bocadinho do tanto que me deixa ser consigo.

O Pai é a pessoa mais bonita que eu conheço.

E aquela que, de entre as pessoas que gosto,

ocupa o quarto maior

e mais luminoso do meu coração.



Elis Regina - Casa no Campo

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais


Thursday, February 21, 2008

Dia -845

Não posso adiar o coração*

pois não.
Um coração adiado não existe.
Não é.
Está morto.

*sim há um poema com este belo título, do António Ramos Rosa

Wednesday, February 20, 2008

Dia -844

Não sei porquê... a sério, não sei porquê...

mas apeteceu-me ouvir isto outra vez*.


De qualquer maneira, é triste, o abandono de uma espécie de mito.
Mesmo imperfeito, como todos, o homem que hoje renuncia,
é um herói.
E este outro era também um herói muito imperfeito.
E juntos há muitos anos. Sonharam um mundo.
Imperfeito. Como todos.
Hasta Siempre.


*pronto eu gosto desta música, está bem? É por isso que esta é a quarta vez que ela aqui aparece, numa outra versão.

Tuesday, February 19, 2008

Dia -843

A propósito de um abraço e de uma carta

Sabes? É que às vezes só andamos à procura de bocadinhos.
De uma pessoa. Noutra pessoa.
E outras vezes abrimos caixas antigas.
E sabes?
Sabes como é chorar em cima de sorrisos?

Monday, February 18, 2008

Momento de Intervalo...

ou o meu telefone...

é uma merda. Não exactamente o telefone. A operadora. Boh. E ainda lhe chamam optimus??
Ora não consigo mandar mensagens. Ora não as recebo. Ora as recebo em catadupa com 3 dias de atraso.
Ora bolas!

Dia -842

Ele diz que não sabe

porque é que me faz feliz.
Eu também não sei.
Acho que é porque deseja coisas como esta:
espero que fales comigo nos próximos 650 anos.
Ou porque imagina impossibilidades assim:
queria arranjar uma maneira de mergulhar nos teus olhos, nadar na tua cabeça e encontrar um bom lugar para ver o teu sorriso a partir de dentro.
Ele diz que não sabe porque é que me faz feliz.
Eu também não sei. Mas gosto de o imaginar,
com um ar feliz e cansado, a regressar do campo.
A apreciar a tarde de inverno que lentamente se cobre de noite.
A olhar para as coisas que lhe ficam no caminho.
A ter a urgência de me comunicar:
Regresso do campo, depois de um dia inteiro de trabalho. Está uma linda tarde de inverno. Olho para esta igreja medieval. E penso em ti. E tenho saudades tuas.

Sunday, February 17, 2008

Dia -841

Cadeia*

Uma só palavra, dizem, poderá salvar-nos

Pedes-me doze e talvez eu não esteja pronta para tamanha salvação

estrela girassol silêncio
chuva árvore
inverno casa
pedra poema pássaro
noite boca

*também no Bebedeiras de Jazz com música e pintura ao fundo

Passaria esta cadeia ao Luís, à Fátima, à Carla e ao próprio Joaquim que gostam tanto de palavras como eu.
Mas como estes já foram encadeiados, passo ao João , a ver como as endromina. Também passo ao Bagaço Amarelo que compreende as mulheres bastante melhor do que pensa e nunca responde a cadeias. Passo igualmente à Miss Woody ou à Miss Allen, conforme lhes apetecer.

Saturday, February 16, 2008

Dia -840

Há dias em que

a única diferença entre a minha vida
e uma telenovela mexicana
é os protagonistas falarem em português.

Friday, February 15, 2008

Dia -839

Questo è per te


astor piazzolla - jeanne y paul

come se fosse possibile avere un futuro solo per noi.
o un altro mondo.
come se fosse possibile inventare altre parole
per quello che ci sentiamo.
o un altro mondo in cui fosse possibile
essere sempre con te.
ti voglio
(sempre)
tanto bene.
tanti auguri a te.

Thursday, February 14, 2008

Dia -838

Nenhum gesto importante


... pode ser feito amanhã

Wednesday, February 13, 2008

Dia -837

Eu não sabia...

mas a uma certa distância, alguém tem escrito o meu nome.
Como se fosse importante escrevê-lo.
Contra todas as ausências.
Há certamente milhares de coisas mais importantes que esta.
Mas só esta me importa.

Sunday, February 10, 2008

Dia -834

Não chove, mas é um pouco como se chovesse



Mariza - A Chuva

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade

Wednesday, February 06, 2008

Dia -830

And then, you see, one thing leads always to another and...


Rufus Wainwright - Cigarettes and Chocolate Milk

Cigarettes and chocolate milk
these are just a couple of my cravings
everything it seems I like's a little bit stronger
a little bit thicker
a little bit harmful for me

If I should buy jellybeans
have to eat them all in just one sitting
everything it seems I like's a little bit sweeter
a little bit fatter
a little bit harmful for me

And then there's those other things
which for several reasons we won't mention
everything about them is a little bit stranger
a little bit harder
a little bit deadly

It isn't very smart
tends to make one part so broken-hearted

Sitting here remembering me
always been a shoe made for the city
go ahead, accuse me of just singing about places
with scrappy boys faces
have general run of the town
playing with prodigal songs
takes a lot of sentimental valiums
can't expect the world to be your raggedy andy
while running on empty
you little old doll with a frown

You got to keep in the game
maintaining mystique while facing forward
I suggest a reading of 'a lesson in tightropes'
or 'surfing your high hopes' or 'adios kansas'

It isn't very smart
tends to make one part so broken-hearted

Still there's not a show on my back
holes or a friendly intervention
I'm just a little bit heiress, a little bit irish
a little bit tower of pisa whenever I see you
so please be kind if I'm a mess

Cigarettes and chocolate milk
Cigarettes and chocolate milk

Tuesday, February 05, 2008

Dia -829

Ma come è bello quest'uomo!




Nanni Moretti é o protagonista do filme Caos Calmo. Também colaborou na adaptação ao cinema do livro, com o mesmo nome, de Sandro Veronesi. O realizador é Antonello Grimaldi (que aparecia em Il Caimano com o director de produção). Vai ao festival de Berlim. A seguir (espero) talvez estreie em Portugal.
Parece que é um filme sobre abraços. E eu sou de abraços.

Acabo de ver um documentário na RAI Uno, por acaso, sobre a rodagem do filme. Coincidências.
Mas como é belo este Nanni Moretti!

Monday, February 04, 2008

Dia -828

Quando eu morrer...

não façam nada de especial, por favor. Mas há só duas coisas. Três na verdade. Que eu gostaria que me fizessem.


Reduzam o meu pobre corpo a cinzas.


Coloquem-nas sob os pés de um castanheiro


(pode ser aquele, aberto ao meio por um raio, mas que permanece vivo).


Digam este poema.


Depois deixem-me correr na seiva da árvore.


É tudo.

Despeço-me da Terra da Alegria

Os pássaros da noite povoavam
as tílias desta minha solidão
O juízo severo dos seus olhos
de olhar onde cabia o pensamento
a luz e a sombra de uma geração
precariamente iluminavam uma alma
que punha a salvação no mais profundo sono
Um castanheiro filho descuidado do meio-dia
de uma ramagem lenta e ondulante
sorria com sorrisos litorais
em um jardim em flor do meu desejo
Homenageio aquela primavera
primeira primavera da amizade
Tudo era pensamento para ele mesmo até
caminhos que não levam a qualquer
parte sabida ou sequer desconhecida
Belo país da arte eu te saúdo
as imagens levantam-se no ar
e um mundo litúrgico somente imaginado repovoa
as sendas dos amantes verdadeiros
onde as palavras só vinham depois
Põe a tua mão perto de mim sob os
lobos de pedra em cada capitel
Oceanos de olvido na memória
esse país longínquo donde venho
nuvem de vida sobre a minha morte
Apaga o tempo de uma má reputação
anos de inquietação de espanto de vergonha
estrela da minha infância ergue-te de novo
tu que eras para mim o sol e a lua
deslumbrante manhã da existência
País onde me leva o meu apelo
sonhos de dua sonhos de mulher
o gosto do açúcar e do sal
uns olhares de sombra e de mistério
o sentido e o símbolo dos sonhos
Os peixes negros e dourados das recordações
olhos brilhantes de animais desconhecidos
pequeníssimas flores da memória
relâmpago dourado do olhar
Os cheiros acres das redondas cavidades
alguma boca de ouro de onde voam as palavras
animadas figuras do meu sonho
abismo de ameaça nalguns olhos
regiões insondáveis e inacessíveis
o espanto provocado pelo crime
libertação total e harmonia
a superfície lúcida dos sonhos
os rostos múltiplos trazidos num momento
palavras luminosas para mim
O que dirá de mim o castanheiro do outono
a estação do que passa e se desfaz
Esqueci a minha infância e não sei nada
Estou à sombra e espero alguém virá
sombria melodia do meio-dia o perfume dos campos cavalgados
na quente luz do dia em que eu vivia
Alguém me chegará desse distante bosque
onde eu errei a minha juventude
nas formas levemente tacteadas pelos dedos
Não me demoro em sítio algum
já nada significam as palavras
neste deserto onde vigilo e estou desperto
terrivelmente só dentro da noite
Ali no silêncio profundo da floresta
ao teu singular odor de singular mulher
crucifiquei a minha juventude
A vida tem aspectos criminosos como
a subida da chama silenciosa
na haste da mulher que se procure
Não há nenhum regresso nos meus passos
a lua era outra lua de hora a hora
a natureza espera-me faz-me sofrer
troncos incendiados no outono
depois adormecidos no inverno
o aspecto humano de uma terra cultivada
Melodia da voz que abre os corações
pássaro disparado pelos ares
a gratidão que segue a solidão
tudo aquilo era belo e era bom
sabia a alimentos e a paz
a homens a calor a infância e lar
Ela trazia amor nas suas mãos
Sorri sofri a noite era já negra
o amor é coisa débil fugitiva
onde não cabem coisas sedentárias
Agora arrebatado e empreendedor
ingénuo como um jovem mas depois iniciado
e requintado e até calculador
olhar sentir cheirar e tactear
diversamente cada uma das mulheres
na sua irredutível singularidade
As noites já começam a ser frescas
será pelos começos do outono
o vento do outono é agora húmido
há um silêncio até ao fim do mundo
às vezes quando falas tudo neva sobre
as folhas longo tempo revestindo
as árvores durante o dilatado outono
somente agora verdadeiramente moribundo
com as primeiras neves do inverno
demónio de demência e desespero
estranha companheira dos meus dias
E a solenidade das noites do inverno
descia no meu corpo solitário e nu quando me
sentia longe das habitações humanas
da casa acolhedora ao cimo do inverno
A fome murmurava no meu corpo
o meu desejo ardente de salvar-me de
cantar os velhos salmos no altar do mundo
ameaçado e mísero e pequeno um
círculo rodeando o coração
desânimo da morte amargurada
debaixo da folhagem já apodrecida
através das diversas estações
de olhos divididos por florestas
de narinas abertas para bâlsamicas violetas
bebendo as montanhas e as nuvens
e a quente intimidade sobre a terra
Acordaram-me os ramos de um salgueiro
os dias das imagens transbordantes
na embriaguez vasta dos espaços
na solidão desértica da alma
o meu amor profundo pela arte
o meu ódio selvagem contra mim
Nós mudamos de heróis e pouco mais
só eu mais maduro e seguro de talento
não tenho paz alguma a teu respeito
ó virgem vagarosa e concentrada
de um rosto calmo belo e impassível
ó vida ó minha primitiva mãe
inacessíveis profundezas da morte
e na sua pureza a sua essência
e simplesmente a minha humana mão
o jogo da ambição um simples jogo
Na refrescante primavera primitiva
ternura maternal e melancólica
e logo após o sentimento frágil
naquele êxtase breve e fugitivo
que é inerente ao acto do amor
a solução em sombra dessa face luminosa
que brilha um breve instante numa vida
a solidão desértica do espírito
o símbolo sagrado do amor
O gozo áspero do vasto perigo
modulação suavíssima das faces
não cessará de abrir a flor das minhas mãos
E depois disso a neve logo cobre
aquela boca de fim do verão
como esses frescos peixes prateados
olhos dourados ansiosos e fixos
que à morte se abandonam resignados
Hei-de saborear o mundo o seu horror
fealdade beleza e harmonia
ver passar o inverno e o verão
e sentir solidão e alegria
Quando por vezes paro de cantar e vejo
uns deslumbrantes ombros femininos de
gigantescas estrelas nos cabelos
quero sentir-me atado ao respirar da casa
Ver-me sensível para com as estações
irmão somente de inocentes animais
ao sol ao nevoeiro à chuva à neve
ser no meu coração uma criança
viver num mundo sempre renascente
ser consciente desta vida instável
saber que em meio dos espaços infinitos
circula em mim uma porção de sangue quente
sentir em mim a marca da puerilidade vagabunda
familiar da morte em cada passo
E a mãe eterna de olhos de medusa
atravessava o país dos mortos
no canto alegre e grave dos seus passos
Olho a marcha da morte no teu rosto
um frémito ligeiro passa em tua pele
Vi sonhar a égua da infância
chegou enfim o tempo do adeus
Oiço a canção éfemera das coisas
despeço-me da terra da alegria
já reconheço a música da morte
Severos surdos saem os meus sons
destino humano instável enfim móvel
o seu pequeno pé o seu pescoço branco
reflexo de ouro tão propício ao sono
a música do outono e de abundância
o seu rosto real era recusa
Pelas alturas coloridas do outono canto
a canção inquieta do amor
cabeleira percursora do amor
amor misterioso e perigoso
nada mais do que triste triste apenas
ó mulher loura sorridentemente dou-te
um beijo alto como um sacramento
A despedida súbita do sol
despedida dos dias e estações
crepúsculo propício do adeus
a esta vida frágil é que aspiro
ave entregada ao decisivo voo
pensamentos de terna nostalgia
jardim de harmoniosos pensamentos
dou-te de toda a alma o nome da ausente
árvore em flor no bosque fonte no deserto.


Ruy Belo - Despeço-me da Terra da Alegria, Editorial Presença, pp. 26-31