Thursday, January 31, 2008

Dia -824

Recados


I.
J. a resposta (à tua pergunta) é sim.
Mas vou continuar a dizer que não.
E entretanto
pode ser que alguém me dê uma paulada na cabeça.


II.

B. Obrigada.
Estava a precisar de conversar com alguém hoje.
Alguém que não me deprimisse, quer dizer.
Afinal, és o mesmo.
Ainda bem que voltaste.
Ou vieste por este bocadinho.
Ou lá o que for.
E fica combinado que se eu morrer primeiro
me enterras as cinzas aos pés daquele castanheiro
e ao mesmo tempo dizes aquele poema do Ruy Belo.

Wednesday, January 30, 2008

Dia -823

Que estranho lugar...

para se estar...
a cabeça de alguém.

Tuesday, January 29, 2008

Dia -822

Arrepio (iv)

Que importa que o coração,
Diga que sim ou que não,
Se continua a viver?


(Primavera,
David Mourão Ferreira)

Monday, January 28, 2008

Dia -821

Lisboa, a ponte, o Tejo e tudo



(fotografia de José Alberto Esteves, o meu primo)

e eu sempre pequena.

Sunday, January 27, 2008

Dia -819

Talvez eu seja, afinal, malgré tout, portuguesa...
(pelo menos de vez em quando)




Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen - Quando
Canta Kátia Guerreiro. Canta tão bem.

Saturday, January 26, 2008

Dia -818

No meu mau italiano, eu podia dizer que...

forse la felicità potrebbe essere soltanto nella sensazione di cose che sentiamo.
Allora, Io sono felice perchè sento un sacco di cose. Di belle cose.
Forse sentire è sufficiente. Forse non si ha bisogno di pensare.
No lo so. E non voglio sapere.
:-)

Thursday, January 24, 2008

Dia -816

Massagem Doce

Ofereceram-me pelo meu aniversário uma massagem com envolvimento de chocolate.
Fui fazê-la hoje e nem sei se vos diga, se vos conte ou se guarde só para mim esta sensação de walking on clouds. Recomendo.
M a r a v i l h o s o.
Eu repito. M a r a v i l h o s o.
Cada vez me convenço mais que eu nasci para ser mimada. E rica. Já agora.

(Sim... há qualquer coisa que não bate certo neste meu fado, mas pronto em havendo amigas maravilhosas que nos oferecem coisas destas, a coisa vai)

Wednesday, January 23, 2008

Dia -815

How to break up with your girlfriend (or boyfriend) in 64 easy steps...



Mais Tales of Mere Existence, no You Tube

Tuesday, January 22, 2008

Dia -814

Arrepio (iii)

(...)
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O'Neill (extracto do (magnífico) Um Adeus Português)

Sunday, January 20, 2008

Dia -812

Acho que

estou um bocadinho tramada...
pronto.

Friday, January 18, 2008

Dia -810

Não sei se repararam

Eu só reparei depois. Quase todos os tipos do dia -809 têm barba...
ou, pelo menos, a sugestão de...
Pois. Parece que eu tenho uma especial predilecção por tipos com barba.

Thursday, January 17, 2008

Dia -809

Se todos os homens à nossa volta fossem como o...*


Reynaldo Gianecchini

Mark Ruffalo

Ryan Gosling
Richard Gere Johnny Depp
Orlando Bloom
Jude LawPatrick Dempsey John Cusack
Matt Damon Leonardo DiCaprioEdward NortonJonathan Rhys-MeyersDaniel CraigColin FirthBrad Pitt

O mundo podia não ser um lugar melhor, mas seguramente era bastante mais bonito.
Sobretudo se todos os homens se parecessem com o tipo mais interessante do mundo
(em duplicado, por ser para mim)
Hugh Laurie


ou com o tipo (também) mais interessante do mundo
(em duplicado por ser para a minha amiga-irmã-praticamente-gêmea)
George Clooney


*fiz 41 anos, mas não estou morta, ora essa!

Tuesday, January 15, 2008

Dia -808

Pronto...
para os meus queridos (e dedicados) leitores
uma prenda de Ano Novo, em nome da igualdade & etc

Scarlett Johansson... or the sexiest girl in the world.

(are you happy now, Miguel?)

Monday, January 14, 2008

Dia -807

Uma prenda de Ano Novo (um bocadinho atrasada)
para todas as minhas (lindas) leitoras

What Else?

Saturday, January 12, 2008

Dia -805

Neste blog é permitido fumar*

*cigarros, cigarrilhas, charutos, charros, chinesas, barbas de milho, mata-ratos, whatever...

Mais se informa que a autora se recusa a cumprir as normas da ASAE. Nada de ventiladores, portanto.

Friday, January 11, 2008

Dia -804

E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

Encontrei há pouco este poema numa antiga carta que a Teresa me escreveu.
A Teresa escreve-me sempre cartas.
Mesmo sendo sob a forma de email.
São cartas.
Daquelas que guardamos com dedicação.
Daquelas que esperamos com urgência.
E não sei por que razão
(a razão tem pouco a ver com estas coisas)
abri hoje de novo o enorme ficheiro que junta a nossa correspondência
e encontrei este poema.
Pareceu-me adequado ao que hoje sinto.
Pareceu-me que fala de espera.
De adiamentos.
E de urgências.
Mas talvez me tenha parecido tudo mal.
E não seja nada disto.

Thursday, January 10, 2008

Dia -803

A Fátima Mudou-se

Bom, não exactamente a Fátima, mas o seu F-World.
Como é um mundo único, continuem a visitá-lo

Wednesday, January 09, 2008

Dia -802

Confesso...

que gosto de todos os familiares, amigos colegas e alunos
(e até gosto de algumas instituições)
que se lembraram que envelheci um bocadinho mais...
mas de todos os emails, sms, telefonemas e mesmo alguns poemas que recebi,
nada me comoveu tanto como este postal dos meus (ex) alunos Paulo e Sara.
Obrigada. O privilégio foi sempre meu. Obviamente.

Tuesday, January 08, 2008

Dia -8/01

É dia 8/01* e este é o meu bilhete de identidade


Eu não sou portuguesa. Sou europeia.
Podia ser de qualquer parte, mas aconteceu ter nascido em Lisboa.
Que não é a cidade mais bonita do mundo.
Ou talvez seja.
Vivo em Aveiro há muitos anos, numa rua que é não é minha
mas da senhora da alegria.
E isto é tão bonito como, ao fundo, a ria.
Trabalho na Universidade mais dinâmica do país.
Na mais bonita também.
E tenho orgulho.
Naturalmente.
Aparte isto tenho alguns gostos e outros tantos não-gostos.
E todos os sonhos do mundo**.
E a convicção de que o que é preciso é dar lugar aos pássaros nas ruas da cidade**.
Gosto do Inverno.
De castanheiros.
De gatos.
De um lugar chamado Cova da Lua, em Montesinho.
De mais uns quantos lugares do mundo que conheço
e de algumas pessoas que nunca chegarei a conhecer completamente.
Gosto de honestidade.
De literatura.
De jazz.
De poesia.
De certas palavras
e de algumas línguas.
De ensinar.
De aprender.
Gosto de fazer peoplespotting.
De cinema.
De pintura.
De política.
Da inteligência.
Do riso.
E da beleza que vai, um dia, dominar tudo.

Não gosto da estupidez.
Da fraca memória.
Da intolerância.
Não gosto das segundas intenções
e do pó nas entrelinhas.
Não gosto de quem não se ri de si mesmo.
Dos espaços desordenados.
Da literatura light.
Não gosto da caridadezinha.
Da música pimba.
Da violência.
De quem diz que não tem tempo
para ver um pôr-do-sol ou olhar para as estrelas.
Não gosto da crueldade.
Da pressa.
E da maior parte dos políticos portugueses.

Poderia ter sido outra pessoa.
Com outros gostos e não gostos.
Ainda poderei ser outra pessoa.

Mas hoje sou isto.
Tenho fotografias melhores.
Mas menos verdadeiras.
Tenho 41 anos.
Aconteceu-me uma vez uma grande dor.
Nos outros dias bastou-me ouvir o vento.


* foi coincidência o post ser no dia -801.
** frases, respectivamente de Álvaro de Campos e de Ruy Belo

Sunday, January 06, 2008

Dia -799

Oggi vorrei darti solamente di cose belli

«Como se não tivesse substância e de membros apagados.

Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.

E germinar no sono, germinar na árvore.

Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.

Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.

No encontro e no abandono, na última nudez,

respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.

Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.

E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila

e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.

Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.»

António Ramos Rosa - Nascimento Último

Friday, January 04, 2008

Dia -797

Grandes são os Desertos e tudo é Deserto

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.
Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.

Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,

Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.

Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.

Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.

Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.

Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.

Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.

Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!

Mais vale arrumar a mala.
Fim.

Álvaro de Campos

Thursday, January 03, 2008

Dia -796

Moi non plus

«Je n'ai pas besoin de lumière pour voir la couleur de mes idées»

Emile Zola - Germinal

En fait, c'est pour ça, par l'obscurité que permet les idées lumineuses, que j'aime la nuit.

Wednesday, January 02, 2008

Dia -795

Continuarei Fumando

"(...) Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.

Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,

A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando (...)"


Álvaro de Campos - Tabacaria

Tuesday, January 01, 2008

Dia -794

O Primeiro Dia do Ano e

não sei porquê, mas só me apetece ser lamechas.