Sunday, January 06, 2008

Dia -799

Oggi vorrei darti solamente di cose belli

«Como se não tivesse substância e de membros apagados.

Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.

E germinar no sono, germinar na árvore.

Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.

Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.

No encontro e no abandono, na última nudez,

respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.

Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.

E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila

e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.

Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.»

António Ramos Rosa - Nascimento Último

2 comments:

Anonymous said...

ainda não chegou o tempo para ir fazer, ao pé de ti, um sumo de múkua e bebermos as duas. podia ser. assim só como uma presença diferente. num dia igual. sempre diferente. todos os anos. por agora fica este caminho de palavras. porque me lembra a tua inteligência. a tua busca constante. essa inquietante procura da beleza. na sua essência: seja nas palavras. na música. nos amigos. na família. n...

PARABÉNS, ELISA! MUITOS PARABÉNS!

beijo ternurento. e um abraço dentro desse beijo.




Um Caminho de Palavras
- António Ramos Rosa

"Sem dizer o fogo - vou para ele. Sem enunciar as pedras. Sei que as piso - duramente, são pedras e não são ervas. O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao mesmo tempo que a vento. Tudo o que sei, já lá está, mas não estão os meus passos nem os meus braços. Por isso caminho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.

Mas entre mim e os meus passos há um intervalo também: então invento os meus passos e o meu próprio caminho. E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as pedras, caminho um caminho de palavras.

Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim

E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-se sol porque o sol existe

Mas a noite existe
e a palavra sabe-o."

Elisa said...

Lu
Obrigada :) gostei tanto do poema que vou colocá-lo já em evidência.
Beijinho