Wednesday, February 28, 2007

Dia -490

Manias
A mania que na cama nascem amores profundos só porque um gajo está deitado.
(A frase não é minha que, sendo gaja, já perdi estas manias há uns tempos.
É do J. que, não sendo gaja, ainda lida com estas manias)
Adenda: mas podem nascer amores profundos na cama...
deitados ou noutra qualquer posição.
Os amores profundos podem nascer em qualquer parte.
E a cama é um lugar tão bom como qualquer outro. Hum... talvez ainda melhor.

Tuesday, February 27, 2007

Dia -489

I am a little bit depressed
São 5:17 da madrugada e eu estou um bocadinho deprimida.
Com os óscares.
A cerimónia foi a melhor dos últimos anos.
4 horas e nem se deu por elas.
Mas... só dois dos meus candidatos ganharam e...
pior... Departed ganhou o óscar para o melhor filme.
Hum... porquê? Nem sequer é um grande filme!
Só me senti assim no ano em que não deram o óscar à Emily Watson
pelo seu enorme papel em Breaking the Waves, de Lars Von Trier.

Parafraseando o Calimero: it's an injustice, it is!

Monday, February 26, 2007

Dia -488

Os Dias Perfeitos...
... são dias como hoje.
Levantei-me com sol. Tomei o pequeno almoço na varanda.
Havia vento. Mas a ria estava azul. Uma cor conveniente a um dia perfeito.
A seguir li um bocadinho do Kafka à Beira Mar
do magnífico Haruki Murakami,
como gosto de ler, aos domingos, deitada na cama.
Depois fui ao cinema, como gosto de ir aos domingos
(bom, na verdade, gosto de ir ao cinema todos os dias da semana)
e pude ver uma interpretação absolutamente brilhante
do (tão velho) Peter O'Toole
em Venus, um extraordinário filme de Roger Michell.
Não admira que seja extraordinário.
Foi escrito por um dos meus escritores preferidos
na literatura inglesa contemporânea: Hanif Kureishi.
A seguir a uma francesinha e umas cervejas em boa companhia,
fui à Casa da Música ver o excelente
(e também tão velho) McCoy Tyner.
Finalmente, voltei a casa.
Deitei-me no sofá e vi toda a cerimónia dos óscares.
Foi a melhor dos últimos anos.
Sim, eu sei, uma mulher não merece ter dias assim tão perfeitos.
Deve ser por isso que são tão raros.

Sunday, February 25, 2007

Dia -487

Os Óscares
Por mim, the oscar goes to:
Melhor Filme: Letters From Iwo Jima
(embora se ganhar o Babel também ache bem)
Melhor Realizador: Alejandro Gonzales Iñárritu (por Babel)
(embora se ganhar o Clint Eastwood também não me importe)
Melhor Actor: Forest Whitaker (em The Last King Of Scotland)
(aqui não há nada a fazer: ou dão o óscar ao Forest Whitaker ou... ou... bah)
Melhor Actriz: Helen Mirren (em The Queen)
(não vi ainda o Notes on a Scandal, pelo que não sei a Judy Dench vai melhor que a minha eleita)
Melhor Actor Secundário: Djimon Hounsou (em Blood Diamond)
(tal como com o Forest Whitaker, neste caso também não há nada a fazer... tem de ser para ele)
Melhor Actriz Secundária: Rinko Kikuchi (em Babel)
(brilhante, mas não vi a Cate Blanchett em Notes on a Scandal nem a Jennifer Hudson em Dreamgirls... pelo que... não sei)
Melhor Argumento Original: Iris Yamashita e Paul Haggis por Letters From Iwo Jima
(ok, o Guillermo Arriaga por Babel também pode ganhar)
Melhor Argumento Adaptado: Todd Field e Tom Perrotta por Little Children
(bom, também pode ser Alfonso Cuarón e Timothy J. Sexton por Children of Men)
Melhor Fotografia: Children of Men
(no doubts)
E pronto. As outras categorias... não sei bem.
Mas sei que amanhã, depois de um (espero que) magnífico concerto do McCoy Tyner na Casa da Música,
vou ficar acordada até às tantas a ver se os meus favoritos levam o óscar para casa.

Friday, February 23, 2007

Momento de Intervalo...

Nunca mais te hás-de calar ó Zeca*
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança
a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância
e a palavra medo.
A cidade é um saco
um pulmão que respira
pela palavra água
pela palavra brisa.
A cidade é um poro
um corpo que transpira
pela palavra sangue
pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos **/ Zeca Afonso - A Cidade

* José Mário Branco - Carta ao Zeca

** Obrigada Alberto, pela correção.

Dia -486

Precisamente
É precisamente por não te pareceres com ninguém que gostaria de te encontrar sempre... em toda a parte...
H. Pratt - A Balada do Mar Salgado
(ou de com um blog me lembrou que devia reler Corto Maltese)

Thursday, February 22, 2007

Dia -485

O Meu Pai...
... é o homem mais bonito que conheço
... tem o cabelo branco mais lindo do mundo
... o olhar mais inteligente e meigo do universo
... sabe fazer tudo
... ensina-me muitas coisas
... telefona-me para me lembrar coisas comezinhas que, se não fosse ele, de certeza, me esqueciam
... gosta de pássaros
... gosta de gatos
... gosta de palavras e compreende-as todas muito bem
... nunca me ralhou
... gosta de árvores e já plantou muitas
... gosta de arranjar coisas
... gosta de ver crescer as coisas
... dá-me conselhos
... andou comigo ao colo e dá-me beijos e abraços
... faz um grande sorriso quando lhe dizem que eu sou a menina do papá
... acha mesmo que eu sou a menina do papá
... e eu estou de acordo porque não imagino coisa melhor para se ser.
O meu pai hoje faz anos.
Muitos Parabéns Pai!

Dia -484

Não quero faca, nem queijo. Quero a fome.
A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.
Adélia Prado - Tempo

Wednesday, February 21, 2007

Dia -483

Japoneses, Como Nós
Letters from Iwo Jima é um filme imperdível*.
Sim, estamos todos fartos de filmes sobre a II Guerra Mundial.
Mas este é um filme que dá rostos, emoções, vidas,
a um dos lados da guerra que nos habituamos a ver
como a natureza de todo o mal,
no cinema sobre este período.
Aqui não. Aqui são japoneses.
Como nós.
Exactamente.
Como nós.
*Aconselho a ver primeiro o Lado A deste épico de Clint Eastwood
(um realizador demasiado humano, como sempre) - Flags of Our Fathers.

Tuesday, February 20, 2007

Dia -482

Tenho 40 anos e dois meses...
... e a minha mãe ainda me chama meu amorzinho pequenino.
E o melhor é que eu gosto!

Monday, February 19, 2007

Dia -481

Die Große Stille*
Um homem pode decidir
ser feliz
sozinho
e em silêncio.**
(* ou O Grande Silêncio, um filme de Philip Gröning sobre os monges cartuxos num mosteiro em França)
(** e isto, mais ou menos assim, foi o que disse o Fernando Alves, no fim de uma reportagem da TSF sobre os monges cartuxos em Portugal, no dia 16/2, intitulada O Lugar dos Homens que Não Falam)

Sunday, February 18, 2007

Dia -480

Ideias ou lá o que é
As ideias fazem-me mal.
A sério.
Sinto-me um bocadinho desencontrada.

Saturday, February 17, 2007

Dia -479

Só isto é verdade
O epicentro dos grandes terramotos
encontra-se na extrema mansidão
com que caminhas
a uma certa luz da tarde
e alheio
destróis os desertos
que levei anos
a esboçar.

Friday, February 16, 2007

Dia -478

Obrigada*



Amy Winehouse - Love is a Loosing Game

*Depois de ouvir atentamente esta é a minha favorita. A voz desta moça é profundamente interessante.

Thursday, February 15, 2007

Dia -477

E a Extrema Inutilidade das Comemorações Estúpidas
Como a deste dia...
como se namorar tivesse data marcada. A ser celebrada.
Ou melhor, como se o amor (essa treta!)
não fosse já celebração bastante.

Tuesday, February 13, 2007

Dia -476

A Extrema Utilidade das Perguntas Estúpidas
Telefonaram-lhe para casa e perguntaram-lhe
se estava em casa.
Foi então que deu pelo facto.
Realmente tinha morrido havia já dezassete dias.
Por vezes as perguntas estúpidas são de extrema utilidade.
(Mário Henrique Leiria - Telefonema)

Monday, February 12, 2007

Dia -475

A Terra Tremeu...
... e eu acordei, com o estremecimento da cama e pensei
'mas que raio... porque é que estou a tremer?'
Eram 10:38.
Muito cedo, para os meus hábitos.
Deixei-me ficar debaixo do edredon muito sossegada,
um pouco como a nêspera do Mário Henrique Leiria...
a ver o que acontecia...
até que percebi...
... a terra tremeu, em Portugal
(5,8 na escala de Richter)
mas foi de satisfação, claro.
(e acrescento que me levantei passado um bocado e que quando saí para a rua, as coisas todas, as pessoas todas, me pareceram... exactamente assim, mais sacudidas, com menos pó nas entrelinhas...)

Sunday, February 11, 2007

Dia -474

Hoje, os meus pensamentos são contentes
SIM
finalmente!

Dia -473

Reticências
Terror de te amar num sítio tao frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeiçao
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Sophia de Mello Breyner
(o poema não se chama reticências. Chama-se Terror de te amar)

Saturday, February 10, 2007

Momento de Intervalo...


... Ou Aqueles que Amam as Palavras, Fazem a Mesma Viagem, Quase Sempre

Obrigada Alexandre


por teres colocado num texto absolutamente belo todas as palavras que amo.


para a Elisa
Estive longos minutos sentado na cadeira sem que qualquer palavra surgisse
(e agora que penso melhor, os minutos são uma porção significativa de tempo quando as palavras não se dignam a estar presentes, e por isso minutos longos como quem conta todos os crepúsculos da manhã e da tarde, como quem vai sobrando à conta dos dias, distanciando-se com a boca calada e meneando a cabeça à descoberta de)
de coisas mundanas como os autocarros que passam aqui em frente a horas tardias, levando uma duas pessoas, aconchegadas no colo da noite perdidas sabe-se lá em que boca calada, meneando a cabeça à descoberta das palavras certas, e nenhuma que surgisse, de modo que eu
(provavelmente todos os segundos o mais demorado beijo, uma tarde de amor, uma viagem)
de autocarro fechado no colo da noite a querer lembrar-me de ti sem encontrar resposta para a teimosia das palavras ausentes durante tanto tempo
(fazendo das horas meses, o sol e a chuva, e a lua, tudo isso, quando vejo uma ou duas pessoas dentro dos autocarros a horas tardias, com as coisas pequenas meneando a cabeça dentro do colo da noite, de modo que eu)
deixo-me ficar sentadinho na cadeira como um traste velho à espera de todos os fins, são longos minutos que me faltam, não são uma duas pessoas que passam dentro do colo da noite pestanejando autocarros a horas tardias
(como se um demorado beijo, e as tardes de amor contadas pelos dedos a jurar que)
um dia serias tu, mas nada disso, quando digo que são uma duas pessoas aconchegadas às palavras sem dizer, só a ti te vejo, posso mesmo jurar que és tu dentro do autocarro levado no colo da noite, que são apenas minutos
(e pensando bem, minutos é uma maneira de dizer que uma porção significativa de crepúsculos esperando a tua saída, mas o sonho que tenho é sempre a mesma volta, com a mesma ambiguidade de que se faz a vida que vivemos sem percebermos que ao olhar para trás são dunas)
dunas de segundos pelo mais demorado beijo, uma tarde de amor. Sempre a mesma viagem.