Nunca mais te hás-de calar ó Zeca*
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança
a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância
e a palavra medo.
A cidade é um saco
um pulmão que respira
pela palavra água
pela palavra brisa.
A cidade é um poro
um corpo que transpira
pela palavra sangue
pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Carlos Ary dos Santos **/ Zeca Afonso - A Cidade
* José Mário Branco - Carta ao Zeca
** Obrigada Alberto, pela correção.
2 comments:
Pois. Eu ainda sou do tempo das casas de corecção...
Será que desta vez consigo deixar um comentário?
Rs já deixaste outro lá para cima. és um bocado 'nerd' para estas coisas tu. E isso das casas de correcção... ai... olha nem sei que te diga. Conheço-te há tanto tempo e na verdade é como se não te conhecesse dadas as coisas que vou 'descobrindo'...
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