A Rua
A rua. A minha. É grande e larga. Tem água. Muita. Ao fundo. Advinham-se os montes de sal.
De antes. Advinha-se mais água que não vejo da janela. A minha rua é grande. E larga.
Não sei quantos passos de comprimento. Não sei quantos passos de largura.
Nunca caminhei a pé por toda a extensão da minha rua.
Sou uma habitante inútil. Que se debruça em direcção à água. Ao fundo. Da janela.
Que nunca se aproximou demasiado dos passeios. Das passadeiras. Dos prédios.
E dos vizinhos.
Sou uma pessoa inútil. Que não conhece, com os seus passos. A sua própria rua.
Inutilmente habito uma cidade onde não conheço ninguém.
Inutilmente habito uma rua que só conheço à distância.
Inutilmente entro e saio do meu prédio sem um eco de bons dias.
Inutilmente vagueio pelas divisões da minha casa.
A rua lá fora. A cidade lá fora. Os vizinhos lá fora.
E eu cá dentro. Inutilmente habitando. Um corpo de que não conheço o habitante.
2 comments:
... olha que eu gostava. Uma rua, a minha rua e ao fundo água. Muita água ao fundo da minha rua. Mesmo que a minha rua fosse inútil, a água inútil e eu fosse igualmente inútil. Mesmo inútil adorava ter essa água ao fundo de uma rua, a que pudesse chamar minha rua, com água ao fundo, mesmo que isso fosse inútil, como se percebe que gostas, apesar de inútil.
Também deves ter uma rua, em qualquer parte, não? Ter é como quem diz...
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