O Engate
Isabela era feia como, dizem, é a noite. Dizem. Não sei. Para mim a noite é sempre mais bonita que um dia qualquer. Mas Isabela era feia. Feia de fugir. Feia como uma máquina de lavar enferrujada que alguém deixa na beira da estrada. Isabela era feia. E estava sozinha. Sozinha como, dizem, um cão. Não sei. Vejo sempre cães em bando. Mas Isabela estava sozinha. S o z i n h a. Entrou Isabela no café. Não levava livros porque não gostava de ler. Não levava o telemóvel porque ninguém lhe telefonava. Não levava nada a não ser a sua fealdade e a sua solidão. Foi suficiente. Numa mesa do fundo, Aníbal, lindo de morrer. Não sei. Se morrer será assim tão bonito. No meio de um telefonema e com um livro virado para baixo, a mostrar as letras ao mármore, viu Isabela, feia e despojada entrar. Teve um 'coup de foudre'. Piscou-lhe o olho, sorriu-lhe, acenou-lhe de leve. Isabela nem pestanejou. Pensou: que pena, um homem tão bonito e cheio de tiques.
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