... Para Assinalar
que depois de ter estado hoje com alguns dos meus alunos admito,
porque tenho de admitir,
que estava cheia de saudades deles*.
Segunda-feira começa o novo ano lectivo.
Votos de muito sucesso académico.
Misturado com doses sensatas de diversão, claro.
*especialmente do meu aluno-ex-preferido... que deixou de usar o título no dia em que descobri que ele vestia aquelas fatiotas inenarráveis, pretas e cheias de um significado qualquer que eu não compreendo muito bem... é que sendo ele uma daquelas boas pessoas, difíceis de encontrar, não estava à espera que fosse adepto de carneiradas deste género ;-P .
Apesar da descoberta contar já com alguns meses, ainda não recuperei do desgosto.
Mas...
muito baixinho... continua a ser o meu aluno preferido.
Competindo com outra menina. Que já não é aluna. E a quem tenho o privilégio de poder chamar amiga.
8 comments:
Nem sempre é confortável ser excêntrico. Às vezes a carneirada dá segurança.
Sempre fui alérgica a estas coisas pretas que se vestem para dizer que somos não sei o quê. Mas às vezes são obrigatórias. Lembrei-me agora que há muitos anos me fizeram vestir uma coisa destas para poder cantar num coro académico. Não gostava mas vestia. Que remédio.
(Tropecei aqui já há alguns dias. Gostei e voltei!)
teresa, sim, é verdade... mas não usar traje académico (brrr) é sinal de excentricidade? Acho que não. Ou melhor, compreendo o que queres dizer... mas para mim não o usar é sobretudo um sinal de inteligência. O rapaz é bestialmente inteligente e digamos que, pelo que eu dele conheço, alinha pouco em carneiradas. Penso que no caso dele o 'traje' tem uma explicação 'familiar' digamos assim. Bom, de qualquer modo e em nome da verdade tenho de confessar que eu própria tenho de vestir 'traje académico' quando sou júri de algum doutoramento ou em cerimónias da universidade... tenho vergonha, acho que é uma coisa disparatada... e assim mesmo... mas repare teresa no seu caso e no meu é uma 'obrigação'(a teresa para poder cantar no coro e eu enfim... a profissão assim o obriga). No caso dos estudantes é uma opção deles o que... enfim... a mim me surpreende sempre.
A rejeição do traje é apenas um dos sintomas da excentricidade, daquela de nos sentirmos desconfortáveis com os símbolos postiços de identidade. Ou com a postiça identidade. E no todo essa excentricidade não é muito agradável porque nos exclui do grupo. Isso é um pouco mais do que não alinhar em carneiradas, é uma exclusão intrínseca que traz uma certa solidão. Vestir um traje, ou uma máscara disfarça a excêntricidade e traz-nos de volta para o centro, ou pelo menos dá essa ilusão.
Estou a divagar! Isto porque a questão do traje me continua a incomodar (agora num coro não académico), ou melhor, a preocupação da aparência, da forma, em detrimento do conteúdo, que é tão comum em meios pequenos, e tão chata de questionar. Às vezes apetece alinhar na carneirada e pronto, é menos desgastante. Não se é mais feliz quando se é idiota?
Peço desculpa pelo azedume, não é normal, só que esta questão veio a calhar nos meus dias que correm! :)
teresa
continua a achar a palavra excentricidade um pouco desadequada... não sei. Achas excêntrico quem usa os símbolos postiços ou quem os não usa? Eu não acho nenhum deles. Gosto mais de quem os não usa. Sem qualquer dúvida... para mim isso é, volto a dizer, sinal de inteligência e de individualidade (não de excentricidade). Talvez quando se é jovem se tema esse isolamento a que eventualmente somos votados por não cumprirmos determinadas regras e/ou convenções... não creio que no caso concreto dos 'desalinhados' do traje académico isso conduza a um ostracismo tão exacerbado como dizes... mas de facto, não sei... não é isso que ouço por parte dos meus alunos... eles usam aquilo porque gostam, ou porque a família quer ou tem esse gosto (e bom... vamos ver, numa família onde vai pela primeira vez uma moça ou um moço para a universidade, talvez eu até compreenda que o traje tem um simbolismo forte... mostra a todos que a moça ou o moço está a estudar 'para doutor')...ou sei lá... teresa deves ser ainda uma menina nova, não? Digo isto sem qualquer ofensa (pelo contrário, eu gosto de pessoas jovens)... mas apeas porque o que dizes me faz lembrar muito eu tipo há uns 20 anos atrás. Com isto não pretendo significar que te vai passar esse sentimento de que se formos imbecis e 'carneirinhos' seremos mais felizes... isso não passa, acho e espero eu... mas pelo menos talvez descubras que ok... há imbecis que são muito felizes... mas que a inteligência é a maior de todas as qualidades: é sexy, dá jeito para resolver problemas e adaptarmo-nos a situações variadas, faz-nos pensar mais, querer saber mais, etc etc... sim, uma pessoa inteligente dificilmente será feliz... mas na verdade ninguém o é sempre e para sempre, mesmo os imbecis têm os seus momentos de menor felicidade, não? E que mais tarde ou mais cedo, imbecis ou inteligentes, encontraremos todos uma forma de viver do melhor modo possível. Não sei.
Quanto ao traje é uma máscara, um disfarce, um símbolo. Como te disse já, uso eu mesma uma treta dessas. Raramente, felizmente e estritamente por 'obrigação'. Se na tradição académica de Coimbra antigamente, a capa servia sobretudo para esconder as desigualdades sociais, digamos assim, hoje em dia o traje contribui exactamente para a promoção dessa mesma desigualdade entre os estudantes... e depois é o símbolo das práticas de praxe perfeitamente ocas. Olha... quem quiser que use e quem quiser que não use. Isto tudo começou com uma brincadeira a propósito do meu aluno preferido... era isso só.
«Bestialmente inteligente?»
Nãããããã....
De qualquer forma, com traje ou sem traje a questão é sobretudo esta:
"Vestir um traje, ou uma máscara disfarça a excêntricidade e traz-nos de volta para o centro, ou pelo menos dá essa ilusão"
E no centro estão grande parte das pessoas que nos rodeiam e que nos serão para sempre indispensáveis. E, num meio pequeno, a cultura dominante ainda é mais forte tornando muito mais difícil sermos nós próprios. Ou pelo menos, tolhendo a nossa individualidade (quer sejamos inteligentes ou não) obrigando-nos a alinhar mais em "carneiradas" - até porque TODOS alinhamos em algumas carneiradas.
(basta ver como em muitas aldeias se conservam "tradições"... e como elas desaparecem na cidade - tal como o traje académico é hoje desprezado em Lisboa mas adquire uma importância grande nas pequenas cidades da província)
Tudo o que sobra será a consciência (ou não) desse alinhamento propositado e consentido na carneirada. E aqui reside a verdadeira diferença: a liberdade de escolher ser ou nao ser (e quando). Ora, a liberdade individual não parece pertencer ao reino da carneirada. E ainda bem.
É sempre bom (também) reencontrar os nossos "velhos" professores! Porque, sim. Também já tinha saudades deles.
Porque, não nos ensinam (nós não deixamos) mas fazem-nos reflectir, questionar e raciocinar! E além disso também alinham em "doses sensatas" de diversão!
ó miúdo... e quem é que te disse que eu estava a falar de ti, hein? Mas que rapazinho tão convencido...
Todos alinhamos em carneiradas sim. E tens razão: é por termos consciência de que alinhamos, de quando em vez em carneiradas, que não somos assim tão 'carneirinhos'.
Despe o raio do traje, rapaz. Ficas mais giro e tudo. E vai chamar velha a outra!
Fazer reflectir, questionar e raciocinar? Ora macacos me mordam se isso não é ensinar! E o alinhar nas doses sensatas ou menos sensatas de diversão também faz parte de tudo isto.
(sim, sim, eu estava a falar de ti)
:) Não, não sou novinha, tenho 38! Talvez sejam questões não resolvidas, presas desde a juventude, diria um psicanalista ;)
Bem, falando a sério, é claro que não sou apologista da estupidez, sobretudo da estupidez voluntária, (porque isto de definir inteligência tem muito que se lhe diga). Nem da acomodação, que no fundo é disso que se trata. Na realidade a maior parte das vezes já nem me incomodo, mas às vezes há qualquer coisa, pequenas coisas, que fazem saltar uma peça mal encaixada. Quando falava em excentricidade referia-me áquilo que nos situa fora do centro, nas bordas, onde há poucos que pensam e sentem como nós (não me referia a uma espécie de originalidade um pouco louca, que é o significado que atribuímos normalmente a excentricidade). Talvez num meio universitário isso não se sinta (e daí não sei!) mas em outros meios frequentemente sentimo-nos extraterrestres (embora se não quisermos os outros nem notem).
Isto tudo não é muito importante, como diz o Paulo o importante é não perdermos a consciência de quem somos. Mas coincidiu eu ler este post quando andava às voltas com uma peça solta a incomodar, daí ter vindo meter o bedelho!
Hum... bom também não és velhota. Talvez seja só inconformismo... sem precisar de psiquiatra :-)
Mete o bedelho sempre que quiseres...
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