Saturday, March 10, 2007

Dia -500

Há muito mais de quinhentos dias
que sou de um país diferente do vosso, de um outro bairro,
de uma outra solidão*

Je suis d'un autre pays que le vôtre, d'une autre quartier, d'une autre solitude.
Je m'invente aujourd'hui des chemins de traverse. Je ne suis plus de chez vous.
J'attends des mutants. Biologiquement je m'arrange avec l'idée que je me fais de la biologie: je pisse, j'éjacule, je pleure. Il est de toute première instance que nous façonnions nos idées comme s'il s'agissait d'objets manufacturés.
Je suis prêt à vous procurer les moules. Mais...

la solitude...

Les moules sont d'une texture nouvelle, je vous avertis. Ils ont été coulés demain matin. Si vous n'avez pas, dès ce jour, le sentiment relatif de votre durée, il est inutile de vous transmettre, il est inutile de regarder devant vous car devant c'est derrière, la nuit c'est le jour. Et...

la solitude...

Il est de toute première instance que les laveries automatiques, au coin des rues, soient aussi imperturbables que les feux d'arrêt ou de voie libre. Les flics du détersif vous indiqueront la case où il vous sera loisible de laver ce que vous croyez être votre conscience et qui n'est qu'une dépendance de l'ordinateur neurophile qui vous sert de cerveau. Et pourtant...

la solitude...

Le désespoir est une forme supérieure de la critique. Pour le moment, nous l'appellerons "bonheur", les mots que vous employez n'étant plus " les mots" mais une sorte de conduit à travers lequel les analphabètes se font bonne conscience. Mais...

la solitude...

Le Code civil nous en parlerons plus tard. Pour le moment, je voudrais codifier l'incodifiable. Je voudrais mesurer vos danaïdes démocraties.
Je voudrais m'insérer dans le vide absolu et devenir le non-dit, le non-avenu, le non-vierge par manque de lucidité. La lucidité se tient dans mon froc.

Leo Ferré - La Solitude
*mas, no entanto, somos todos daqui. Do mesmo sítio.
Uma tradução muito imperfeita pode ser encontrada nos comentários.

8 comments:

Sandman of the Endless said...

Oi, querida... Saudades de ti... Beijos, beijos...

Elisa said...

Um beijinho Sandman.

outroblog said...

é mesmo bonito....pena a musica francesa se ter quase eclipsado...que beleza no dizer...

Anonymous said...

Thought provoking, always thought provoking!

Thank you.

Sandman of the Endless said...

Elisa, por acaso você teria a tradução desse poema?

Elisa said...

Sobretudo isso outro blog... o dizer. A força do dizer.

Elisa said...

You are welcome, Melly.
Beijo

Elisa said...

Sandman não conheço uma tradução... e por isso traduzi... e aqui fica. A tradução é minha e por isso não está perfeita (longe disso)... de qualquer maneira perde força, quando traduzido.
Mas aqui tem:
«Sou de um país diferente do vosso, de um outro bairro, de uma outra solidão.
Invento hoje para mim caminhos mais directos. Deixei de ser de onde vocês são.
Espero os mutantes. Biológicamente contento-me com a ideia que tenho da biologia: eu mijo, eu ejaculo, eu choro. È fundamental que construamos as nossas ideias como se se tratassem de objectos manufacturados.
Estou pronto para vos obter os moldes. Mas...

a solidão...

Advirto-vos que os moldes são de uma textura nova. Eles foram fundidos amanhã de manhã.
Se não têm, a partir deste dia, o sentimento relativo da vossa duração, é inútil transmitir-vos, é inútil olhar-vos de frente, porque de frente é de trás, a noite é o dia. E...

a solidão...

É fundamental que as lavandarias automáticas, ao canto das ruas, sejam tão imperturbáveis como os fogos presos ou de via livre. Os chuis do detergente indicar-vos-ão o sítio onde será permitido lavarem aquilo que vocês crêem ser a vossa consciência e que não é senão uma dependência do computador neurótico que vos serve de cérebro. E, contudo...

a solidão...

O desespero é uma forma superior de crítica. Por agora chamar-lhe-emos ‘felicidade’, as palavras que vocês empregam não sendo mais ‘as palavras’ mas uma espécie de conduta através da qual os analfabetos ficam de boa consciência. Mas...

a solidão...

Do Código Civil falaremos mais tarde. Por agora, quero codificar o incodificável. Quero medir as vossas diversas democracias. Quero inserir-me no vazio absoluto e tornar-me no não-dito, no não-nascido, no não-virgem por falta de lucidez. A lucidez resiste no meu hábito.»